A delação premiada do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) compromete o governo e políticos da situação e da oposição, evidenciando a verdadeira mixórdia em que se transformaram as relações políticas e partidárias no país, especialmente em torno do poder. Evidentemente, não se pode dar crédito total ao delator, até mesmo porque não se sabe qual foi sua motivação ao citar o nome de tantas pessoas e empresas como protagonistas de ilicitudes. O que é preciso, antes de tudo, é investigar e provar os delitos denunciados. Apuradas as responsabilidades, com a observação do amplo direito de defesa, aí, sim, cabe punir exemplarmente todos os que se locupletaram com recursos da população e que faltam para o financiamento de serviços essenciais. Mas os relatos do ex-líder do governo no Senado são perturbadores e já exigem explicações minimamente convincentes por parte dos denunciados.
A cobrança vale para todos os 37 políticos e as 74 empresas delatadas agora, incluindo alguns dos mais influentes líderes políticos brasileiros. Acima de tudo, vale para quem ocupa cargos no comando do país, a começar pela própria presidente da República, que ficou em situação constrangedora depois da tentativa do ministro da Educação de silenciar o delator.
Diante de um número tão elevado de envolvidos nas citações, é previsível que os políticos tendam a agir de forma oportunista, rechaçando fatos prejudiciais à sua própria imagem e reforçando os desfavoráveis aos opositores. Por isso, os brasileiros precisam ficar atentos aos desdobramentos, desde o processo de depuração e aprofundamento das investigações por parte das instituições até a manifestação do Judiciário.