Um dia depois de um novo rebaixamento na nota do Brasil por parte da agência de classificação de risco Standard & Poor's, o governo federal confirmou ontem a intenção de cortar cerca de R$ 23,4 bilhões de gastos do orçamento deste ano. Mesmo com o compromisso do Planalto de preservar áreas sociais, a decisão impacta todos os brasileiros, mas é necessária e chega com atraso, diante da deterioração nas finanças públicas provocada por políticas econômicas equivocadas. A esta altura, quanto mais tempo a equipe econômica demora para agir, maior é o ônus submetido ao país, visível principalmente sob formas como a retração no consumo, o retrocesso na atividade produtiva e o encolhimento do nível de emprego.
A hesitação em relação ao anúncio, que já deveria ter sido feito, depois foi adiado para março e, agora, antecipado novamente, mostra bem a confusão diante de uma crise perversa, que vem dizimando avanços arduamente conquistados nos últimos anos e destruindo a confiança das pessoas na capacidade do país de retomar o crescimento. Em consequência, o que se constata hoje é uma queda na arrecadação de tributos maior do que a do Produto Interno Bruto (PIB), que já é grande, reduzindo ainda mais as margens de ação do poder público.
O país, que foi longe demais na crise econômica, precisa deixar de lado um discurso vacilante e provar que está mesmo compromissado com o rigor fiscal. O custo é grande, mas não há como pensar em retomada do crescimento sem um esforço conjunto com o Congresso para reorganizar as contas públicas.