O debate naquele bar era empolgante. Uma mesa central com umas oito pessoas discutia sobre a vida em geral. Não sei se você já tem sua definição do sentido da vida, do que é a vida de cada um. Naquele bar, muitas questões estavam em jogo. Uma era se existem o azar e a sorte. Há os azarados e os sortudos, diziam uns, e se sustentavam em Woody Allen, em especial no Match Point, um de seus melhores filmes. Um dos debatedores mais afeitos a explicações sustentava, com certa bossa, que o destino está determinado pelas nossas identificações. O destino é derivado da repetição dos sintomas, da repetição de fracassos e sofrimentos.
Sorte ou azar é uma questão atrativa, alguém opinou. Há uma dimensão do azar quando ocorrem situações que não dependem de nós. Exemplos são a queda de um avião, uma bala perdida, violências humanas ou da natureza. De repente, um jovem silencioso, que a tudo escutava, veio com uma nova definição de vida ao assegurar que a vida é uma odisseia. Confusão geral na definição da palavra odisseia. Odisseia é o livro de Homero que narra as aventuras de Odisseu - também conhecido por Ulisses - após derrotar Troia. Daí se generalizou a palavra odisseia como sendo uma aventura, uma viagem com imprevistos inevitáveis. Um quase silêncio se fez, quebrado pelos ruídos dos bares.
Entretanto, a graça das conversas é mesmo o contraditório, e em seguida apareceu a questão: a odisseia de cada um não está cada vez mais solitária? Seguiu sustentando que a realidade virtual veio para ficar, mas seria dominada pela superficialidade. E em seguida se formaram dois grupos na mesa entre os que defendiam a realidade virtual e os que se opunham.
Quando a discussão estava chegando ao fim, veio de outra mesa uma crítica. Disse uma moça de olhos verdes que se deveria falar também das odisseias que vive hoje o nosso Brasil. Aí vários falaram sobre a odisseia da Petrobras, que foi do paraíso ao inferno, da espantosa história do Partido dos Trabalhadores, que evoluiu de um pequeno grupo idealista até se transformar num grande partido desnorteado.
Aí sim o bar se empolgou, uns diziam que o PT era o novo bode expiatório, outros repetiam as ferozes críticas da mídia. Um elogiava o Moisés, e outro, o Coimbra. As discussões eram quentes mas respeitosas. Lembrei até da música do Hique Gomez: "Ela era coxinha, ele petralha, mas isso não os atrapalha". Matei a saudade dos tempos das soluções fáceis para tudo no fantástico Alaska.