Prestes a completar 50 anos, em setembro, a baiana Ingra Lyberato - que recentemente mudou a grafia do sobrenome por conta da numerologia - define-se como uma pessoa que se deixa levar pela vida, de um trabalho a outro, de uma cidade a outra. Esses caminhos trouxeram a atriz a Porto Alegre, onde morou por 11 anos e para onde sempre volta para rever a família ou por compromissos profissionais, como neste verão.
- Sou flexível, tenho muita sensibilidade para perceber a porta que está se abrindo e entrar com tudo. Tenho a característica de me transformar muito - conta.
A primeira guinada na vida profissional se deu antes mesmo de Ingra se tornar atriz. Nascida na Bahia em uma família de artistas - dos cinco irmãos, só um seguiu uma carreira "tradicional" -, sua primeira arte foi a dança. O pai, o cineasta Chico Liberato, teve seu longa de animação, Boi Aruá, adaptado pelo balé mais importante de Salvador. Por conta da convivência com os integrantes da companhia, Ingra decidiu fazer faculdade de dança. Mas, faltando um ano para se formar, foi passar férias no Rio e não voltou mais. Na Cidade Maravilhosa, tomou gosto pelo teatro: dedicou- se aos palcos por dois anos até conseguir o primeiro trabalho em TV, na novela Tieta, da Globo, em 1989.
- Os amigos da família brincam que fui trabalhar em televisão para me vingar da minha mãe. Meus pais, hippies, evitavam consumismo e modismo. Minha mãe (a escritora Alba Liberato) chamava a TV de " máquina de fazer doido". Eu tinha 12 anos quando eles compraram uma. Podia escolher "uma porcaria" para assistir por dia - recorda, rindo.
Em 1990, a atriz conseguiu um papel em Pantanal, da extinta Manchete. Foi quando conheceu o diretor Jayme Monjardim, com quem foi casada por seis anos. Com ele, trabalhou em seu papel de maior destaque nos anos 1990, quando estrelou Ana Raio e Zé Trovão. Apaixonados pelo universo dos rodeios, o casal chegou a criar cavalos lusitanos no interior de São Paulo.
- Parei de atuar por quatro anos para me dedicar aos cavalos. Frequentei eventos, vivi esse mundo a fundo, até que a profissão voltou a me chamar.
No Rock in Rio 3, em 2001, conheceu o músico gaúcho Duca Leindecker, que se apresentou no festival com a banda Cidadão Quem. Mudou-se para Porto Alegre e se tornou mãe. Agora, mesmo morando no Rio, Ingra sempre dá um jeitinho de desembarcar na Capital para ficar mais com o filho, Guilherme, hoje com 12 anos.
- Toda vez invento algum trabalho aqui para estar com a família. A gente se dá superbem, até a Dália (mãe de Duca) me ajuda a passar texto. Neste verão, Ingra voltou aos palcos da Capital com as peças Inimigas Íntimas e Quinto Andar, Por Favor! - ambas de Néstor Monastério - no Porto Verão Alegre.
E há mais por vir. No cinema, ela aguarda o lançamento de dois filmes: Going to Brazil, do português Patrick Mille, para o qual teve de aprender a falar francês, e A Espera de Liz, de Bruno Torres, filmado no ano passado na Serra.