Chama a atenção, em um consultório de psicoterapia e, supõe-se, de qualquer profissional sensível, o número crescente de pacientes que se sentem essencialmente farsas, incapazes ou inadequados. Adolescentes tardios, em cronologia ou não, que não apenas dependem dos pais para muitas tarefas, mas não parecem perceber que estes não durarão para sempre, ou se constranger com essa dependência.
Um dos motivos de isso chamar a atenção vai da experiência pessoal e compartilhada de momentos nos quais, apesar da proteção dos pais, muitas vezes os jovens sentiam-se constrangidos pelos amigos por ainda dependerem dos pais para isto ou aquilo, levando a fenômenos curiosos, como pedir aos pais que o deixassem a duas quadras da escola para fingir que teriam vindo de ônibus etc.
Os exemplos são muitos, com uma só mensagem: progressivamente me torno adulto, dependo cada vez menos dos outros, em breve me tornarei um elemento desse organismo social, contribuindo e consumindo em medida semelhante. Não vou necessitar da sobra de outro.
Dentro do modelo da terapia do esquema, identificamos que, ao longo do desenvolvimento, uma pessoa tem necessidades emocionais básicas: vínculo seguro, autonomia, liberdade de expressão, lazer e limites. O quanto cada um vai necessitar de cada varia com seu temperamento (inato) e cultura.
Ao lidar com situações, devemos pensar de que maneira nos utilizamos delas. Por exemplo, a violência não apenas atinge níveis altos, mas é noticiada também de maneira vigorosa. Para pais corujas, como se controlar? Vão querer proteger os filhos e, assim, fazer uso dessa situação para privá-los do necessário estímulo à autonomia. Diversões digitais, tempo de deslocamento, drogas e DSTs são outros exemplos. Problemas reais e também "desculpas" para mantê-los sob controle.
Todavia, o preço que pagamos pode ser ainda maior: como estimular adultos que entendem a si mesmos como fundamentalmente incompetentes, se ao longo de toda sua vida tiveram a mensagem oculta de que, sozinhos, não vão dar conta?