Para entender quão concorrida é a personagem da coluna deste domingo, é importante contar que, ao enviarmos um e- ail a fim de marcar uma entrevista, recebemos uma mensagem automática avisando que não havia mais horários para agendamentos em 2016 - vale relembrar que o ano começou há apenas algumas semanas. Aos 28 anos, Ivy Saruzi é uma das tatuadoras mais badaladas de Porto Alegre. Mas só porque teve coragem para arriscar e mudar completamente o rumo da sua vida.
Quando tinha 12 anos, seu pai a levou ao estúdio do Edu Tattoo para colocar seu primeiro piercing. Na época, ela já desenhava e nutria o sonho de ser artista plástica, mas tinha medo de não ter seu trabalho valorizado. Ao ver os desenhos das tatuagens pendurados nas paredes, avistou uma outra possibilidade dentro de sua arte.
- Olhei aquilo tudo e pensei: "Nossa, dá para desenhar em pessoas! Eu quero fazer isso um dia!". Mas como era um desejo infantil, deixei ali, adormecido - conta.
Dez anos depois, cursando Ciências Sociais na UFRGS e trabalhando como representante comercial - após atuar como office girl e programadora no setor de produção de conteúdo digital - Ivy percebeu que estava infeliz:
- Saía de casa às sete da manhã, voltava à meia-noite e estava totalmente decepcionada com o curso. Me formar na faculdade nunca foi um desejo meu, e estava cansada das discussões, da briga de egos para saber quem citava mais autores. A academia nunca foi muito a minha praia. Mas achava que era o melhor caminho, porque pelo menos um dia estaria formada e poderia prestar um concurso e dar aula.
Foi então que decidiu dar uma chance ao sonho de criança. Pediu demissão, passou por um curso de curta duração e, finalmente, em 2009, tomou coragem para levar seus desenhos ao estúdio do Edu - e se tornou sua aprendiz. Detalhe: sua pele era completamente virgem.
- No início, comecei trabalhando na esterilização, lavava biqueira, descartava material, ajudava a montar bancada, fazia de tudo na loja. Ao mesmo tempo, eu tinha esse contato com os tatuadores mais tops de Porto Alegre, que me guiaram desde a parte criativa de fazer o desenho até o momento de tatuar, chegando inclusive a ceder a pele para eu ir treinando.
Hoje, Ivy soma 19 tatuagens ao longo do corpo, chegou a fazer dois desenhos na pele de seu pai e se prepara para, em breve, fazer o primeiro em sua mãe. Um dos maiores apoiadores - e primeira cobaia da artista - foi Camilo Nunes, que hoje é seu sócio no thINK artclub, estúdio que abriram em abril de 2015, quando Edu Tattoo fechou o endereço da Ramiro Barcelos e passou a atuar sozinho.
O thINK funciona no número 101 da Rua Maranguapé, sempre com hora marcada - mas a agenda de Camilo também já está lotada até setembro.
- A gente viu que tinha condições de continuar trabalhando juntos e montar com carinho um negócio que tivesse a nossa cara. Poder ter um contato mais próximo com cada cliente e transmitir essa empatia no desenho tem reflexo na agenda - finaliza.