Editorial diz que a imoralidade não está nas instituições, e sim nos políticos que as deformam. Você concorda? Clique aqui
Em entrevista divulgada recentemente pelo canal GloboNews, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa disse ao jornalista Roberto D'Ávila que nem todas as instituições republicanas estão funcionando como deveriam. Destacou que as chamadas instituições reativas, o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário, estão dando conta de suas atribuições. Mas as instituições propositivas, especialmente os poderes Executivo e Legislativo, não estão dando a resposta que a sociedade espera deles. Não há como discordar dessa avaliação. A crise política que se agravou nos últimos dias comprova exemplarmente o mau desempenho desses poderes e de seus atuais comandantes. A presidente da República, agora às voltas com um processo de impeachment, chegou ao nível mais baixo de popularidade em decorrência da crise econômica, do escândalo de corrupção na Petrobras e da administração errática do país. Os presidentes da Câmara e do Senado estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato, assim como vários outros parlamentares que integram as duas casas legislativas. Na verdade, não são os poderes que estão contaminados pelo vírus da inoperância: são alguns políticos que os representam _ e que, infelizmente, também nos representam.
O Brasil optou inequivocamente pelo Estado democrático de direito. Tanto a Constituição quanto as leis dela decorrentes têm sido respeitadas desde que o país se democratizou. Mas a democracia não está imune a deformações, entre as quais o famigerado presidencialismo de coalizão que o sistema político nacional incorporou com todos os seus vícios. Também não está livre de pessoas que tentam se apropriar do Estado, que usam a representação e os mandatos em causa própria, que não hesitam em se acumpliciar com a corrupção. Não são os poderes e as funções públicas que estão contaminados pela imoralidade: são os homens e mulheres que os utilizam indevidamente.
Para o país funcionar melhor, precisamos não apenas desenvolver mecanismos de controle sobre as instituições, mas também, e principalmente, uma cultura de integridade que efetivamente atinja todos os escalões da administração pública e também setores não governamentais. É sabido que não há corruptos sem haver corruptores. Mas ambos teriam menos espaço de manobra se a sociedade passasse a rejeitar inequivocamente a corrupção, qualquer corrupção, independentemente do tamanho. O princípio da esperteza, do jeitinho e do apadrinhamento é que não pode mais ser tolerado.