Muito se especula desde o fim de semana sobre o porquê das manifestações antigovernistas terem minguado ao longo do ano. Ante o crescente desprestígio do governo Dilma, a lógica seria que ocorresse o contrário. No domingo, em Porto Alegre, o ato anti-PT reuniu cerca de mil manifestantes, quando em março foram 100 mil (as estimativas são da Brigada Militar). Os organizadores explicam que era uma prévia do que eles esperam reunir em manifestações gigantescas, em breve. Em São Paulo, a caminhada pelas ruas teria encolhido de 1 milhão de participantes (em março) para 30 mil (neste domingo). O que houve?
Arrisco uma hipótese: o público situado à direita do espectro político brasileiro não milita, salvo exceções, como a Banda Loka Liberal (no RS) ou a rapaziada do Revoltados On Line (em SP). Militância, desde 1964, é quase um monopólio da esquerda. O que se viu no início deste ano, a direita nas ruas, foi algo raro: uma massa de pessoas, irritadas com desmandos de corrupção, ganhou espaço nas principais cidades do país. Protestavam contra o governo, contra a crise econômica. Poucos tinham ligações partidárias. Eram aquilo que os sociólogos costumam definir como a maioria silenciosa, que decidiu se mexer, num gesto surpreendente.
Talvez essa neodireita esperasse que sua mobilização trouxesse uma mudança imediata. Mas a política é o oposto da guerra, é a arte do diálogo. E o governo não caiu. Balançou, mas continua lá, amparado no toma-lá-dá-cá dos bastidores. E o sujeito que não milita se desencantou. Alguns voltaram para a poltrona em frente à TV, no dia de domingo (como naquela música de Raul Seixas). Muitos desses, que não fazem da ideologia seu ganha-pão ou seu hobby favorito, que desconfiam de políticos e clamam por ordem, preferiram aguardar e ver se o impeachment avança.
O grito nas ruas, ontem, se restringiu a uma minoria que acredita que mobilização pode derrubar o governo. Talvez tenham razão, talvez não. Mas se engana quem imagina que a redução de manifestantes antipetistas nas ruas significa aprovação à gestão Dilma. As pesquisas indicam o contrário: a maioria, mesmo quieta, repele o governo. Pode não ter saído às ruas por comodismo ou por vergonha de andar a reboque do fiador do impeachment, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tapado de denúncias de corrupção.
Mesmo calado, esse eleitor acanhado e pouco disposto a fazer passeata será decisivo - no processo do impeachment ou após ele, numa eleição. Nem sempre silêncio significa resignação. É por saber disso que o governo não fez festa.
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