Na troca de acordes entre Chocolate e Não Quero Dinheiro, Tim Maia gritava: "Eugênio Corrêa, cadê você? Canta comigo!". Foi só uma das incontáveis vezes que o cantor chamou o produtor e um dos idealizadores do Planeta Atlântida ao longo da apresentação memorável no festival de 1998.
Por motivos assim e semelhantes, como tomar chimarrão na sacada do Hotel Araçá, em Capão da Canoa, com Zeca Pagodinho e ter de providenciar litros de tintas para Charly García pintar bonecas nos momentos de folga é que Eugênio - ao lado de Renato Sirotsky - pode ser considerado a alma do Planeta. Em 29 e 30 de janeiro, o evento completa 20 anos, e ele consegue se lembrar de cabeça boa parte do line-up ano a ano e reviver com riqueza detalhes de shows e bastidores que escreveram esta história.
- Não é business. É mais do que isso. A gente adora falar do Planeta, dar carinho, regar essa planta. Estamos ficando velhos e às vezes com medo de não acompanhar a evolução, mas é por isso que tem sempre uma gurizada nova envolvida, que a gente gosta de incentivar.
O evento surgiu com o objetivo de comemorar os 20 anos da Rede Atlântida FM e deveria englobar ações em todo o Litoral ao longo da temporada de verão. Veio do Dody (Sirena), um dos sócios na DC Set, a ideia de reunir todas as atividades em um só final de semana.
Na primeira edição - com censura livre -, teve pista de kart, luta de vale-tudo, futebol de modelos (capas da Playboy contra tops da Ford) e shows de Mamonas Assassinas, Rita Lee, Paralamas do Sucesso e Titãs.
Assim, a praia de Atlântida entrava de vez no calendário do entretenimento brasileiro. E não demorou para que os organizadores percebessem que, até por uma questão de marketing, valeria mais a pena limitar a entrada de participantes para maiores de 14 anos.
- É o debut de uma geração aqui no Rio Grande do Sul. Tem gente sonhando em completar 14 anos para poder participar do Planeta. A gente passou a ter cuidado para não colocar mais shows que remetessem ao mercado infantil. Posso ter cantores mais populares, sem dúvida, mas sempre primamos pela essência pop rock - reforça Eugênio.
Aliás, sobre essa questão da popularização das atrações de uns anos para cá - o grande ícone da festa de 2016 deve ser o cantor de forró Wesley Safadão -, Eugênio ressalta que se trata de uma evidência, já que um dos objetivos do evento é apresentar tendências do mercado. Ainda em 1999, o axé de Netinho e Terra Samba animaram os planetários. Em 2005, o DJ de música eletrônica Tiësto encerrou o festival e, em 2009, Victor e Leo ingressaram no palco principal com o sertanejo universitário.
- O mundo se popularizou. Nós não temos como fazer um evento para 100 mil pessoas sem ter apelos populares. Mas nunca esquecemos de trazer nomes como O Rappa, Charlie Brown Jr. e Lulu Santos. Só que a renovação do pop e do rock foi muito limitada no Brasil. O Chorão morreu e ninguém veio para substituir, por exemplo. As bandas que surgiram nesse cenário não cresceram nem se desenvolveram, e os novos estilos vieram tomando conta.
O funk está aí para comprovar. Na próxima edição, Baile do Dênnis, Valesca Popozuda e Anitta comandam o agito. Em primeira mão, Eugênio contou à coluna que uma homenagem envolvendo somente artistas locais está sendo preparada para reviver as duas décadas do Planeta. Ainda estão afinando os laços. Aproveitamos para perguntar como é para os produtores de shows ter de lidar com a pressão do público para chamar uma ou outra atração:
- Não é um crowdfunding online. Por enquanto, não deu para atender todo mundo. Eu queria trazer o Luis Miguel, adoro bolero, mas acho que não daria muito certo (risos). No primeiro Planeta, fiquei tão frustrado por não trazer a Laura Pausini. Não consegui fazer o Legião Urbana também, que atendi por muitos anos.