O Brasil enfrenta a partir de agora as consequências de mais uma decisão de agência de avaliação de riscos, que rebaixa o grau de investimento do país. A previsão é de que a nova nota da agência Fitch irá contribuir para o agravamento da crise econômica, com efeitos perversos para todos. Confirma-se o que o governo esperava que não acontecesse, e que analistas, empresários e investidores externos davam como inevitável. Quebra-se com a decisão um período de confiança conquistado pelo Brasil. É o fim de um ciclo virtuoso, pois aponta para a quase certa saída de investidores.
O rebaixamento é mais uma prova categórica de que o governo não conseguiu reverter, durante todo o ano, os danos provocados pelos desatinos da política econômica. A irresponsabilidade fiscal sem limites foi punida também pelo olhar externo, que orienta as atitudes de quem decide manter ou ampliar investimentos e, numa situação como a agora enfrentada, afastar-se de ambientes inseguros. Fatores diversos criaram o cenário negativo. A irresponsabilidade deve ser creditada também a um Congresso que, ao invés de apoiar ações corretivas, trabalhou contra a austeridade, rejeitando projetos bem-intencionados e aumentando gastos apenas para minar a capacidade de gestão do Executivo.
A situação é agravada pela fragilização do ministro Joaquim Levy, que pode estar encerrando seu período como avalista da tentativa de recuperação. O ministro não teve o apoio de um governo que não soube cortar gastos que deveriam ir muito além de reduções pontuais em dotações de programas sociais, como o Bolsa Família, e, ao contrário, manteve sua estrutura intocada, preservou CCs e fez ameaças com aumento de impostos. A provável saída de Levy, considerada cada vez mais provável, faz com que todos, e não só governo e Congresso, se defrontem com uma realidade incômoda, com mais desconfiança e mais incerteza. Espera-se, como pregou ontem o ministro, que ainda existam pessoas e instituições dispostas a propor e a apoiar medidas de defesa do Brasil.