Prestes a ser cassado pelos colegas deputados, Diógenes Basegio (PDT), que já havia ameaçado denunciar irregularidades cometidas por outros parlamentares, preferiu renunciar atirando contra outro alvo: a imprensa. A desistência do pedetista de prosseguir na Assembleia ganhou corpo nas últimas duas semanas, quando o presidente da Casa, Edson Brum, anunciou que a cassação seria votada na terça-feira, dia 24, e o Ministério Público passou a investigar a suspeita de que o deputado exigia parte dos salários dos funcionários.
As últimas denúncias são ainda mais graves se comparadas às que deram origem a todo o processo: a manutenção de uma funcionária fantasma no gabinete e omissão em relação a irregularidades cometidas pelo ex-chefe de gabinete Neuromar Gatto.
Apesar das tentativas de alguns deputados, como Ciro Simoni e Gilmar Sossella, do PDT, e outros integrantes da base governista, de tentar reduzir a uma suspensão a punição a Basegio, a pressão das novas informações, que vieram documentadas, e a atuação do Ministério Público, foram decisivas para o pedetista desistir. Em vez de se despedir do cargo acusando os colegas de malfeitos semelhantes, como já havia feito com o conterrâneo Juliano Roso (PC do B), seu adversário político em Passo Fundo, o deputado e seu advogado preferiram direcionar as críticas à imprensa, em especial à RBS e ao jornalista Giovani Grizotti. O repórter foi quem elaborou reportagem mostrando o deputado contando dinheiro que seria obtido via achaque aos funcionários.
Na entrevista em que anunciou a renúncia, concedida à Rádio Guaíba, Basegio chorou, disse que "não teve a oportunidade de se defender", falou em "linchamento público" e que renunciou porque o processo tornou-se "fonte de sofrimento". Apesar das críticas do deputado ao trabalho da imprensa, o que pesou contra ele foi a fragilidade dos argumentos apresentados. Basegio não foi capaz de convencer nem mesmo os colegas - sendo que alguns apresentaram muito boa vontade para isso - de que não cometeu irregularidades.
A renúncia do pedetista evita apenas o constrangimento de uma cassação por meio de voto aberto no plenário da Assembleia, mas se constitui em uma mancha para o próprio Legislativo, que não conseguiu evitar situações graves como as protagonizadas por ele. Nos bastidores da Casa, circulam informações sobre casos semelhantes ao de Basegio que, por enquanto, não chegaram ao conhecimento de autoridades ou da mídia por falta de elementos mais concretos.
ALIÁS
O deputado Diógenes Basegio queixou-se injustamente de não ter recebido espaço para se defender. As suas justificativas foram apresentadas, mas não encontraram eco nem na Assembleia, nem no Ministério Público.
PROCESSO NA JUSTIÇA
A renúncia ao mandato de deputado poupou Diógenes Basegio de um julgamento político, mas não afeta em nada a sua situação no processo ao qual responde na Justiça.
O pedetista é acusado pelo Ministério Público de exigir parte dos salários dos servidores, desviar verbas relativas a diárias fictícias, usar funcionários fantasmas e praticar lavagem de dinheiro.
LUGAR PARA LAMMEL
Desde a entrada no governo, o PDT tenta, sem sucesso, encontrar um cargo para o ex-vice-presidente do Banrisul Flávio Lammel. Com a renúncia de Basegio, a situação pode mudar.
O segundo suplente da bancada do PDT, Vinicius Ribeiro, passa a ser o primeiro e assumirá uma cadeira, já que o deputado Gerson Burmann está no secretariado. Lammel é cotado para substituir Vinicius na presidência da Corag.
Presidente do PDT, o deputado federal Pompeo de Mattos avalia que a sigla não sai manchada pela renúncia de Diógenes Basegio. Pompeo admite que o partido aconselhou o pedetista a abdicar do mandato.
- Ele estava passando por um linchamento moral e não tinha perspectiva de reverter isso politicamente. Não julgo o teor do processo, o tempo é o senhor da razão - explica.
*Juliano Rodrigues é interino da coluna Política+