O mais astuto político brasileiro desde Getúlio Vargas vivencia pela primeira vez em sua caudalosa carreira o risco concreto do ocaso. Por não ter traduzido adequadamente o cenário que exigia um candidato mais ao centro, Lula perdeu três eleições consecutivas para presidente, mas em nenhuma dessas ocasiões ele viu sua biografia se equilibrar sobre o abismo como agora. O futuro do candidato a um terceiro mandato em 2018 está por um fio graças a uma conjunção de erros que minam a cada semana seu crédito político. Os principais fatores que conspiram contra Lula:
A ESPERA - Por razões que só a história explicará, Lula liberou Dilma para concorrer à reeleição. Tivesse sido ele o candidato em 2014, provavelmente teria voltado ao Planalto com todas as blindagens inerentes ao cargo, das jurídicas às do toma lá dá cá tão em voga nos últimos tempos.
O PALESTRANTE MILIONÁRIO - Em tese, não há nada de errado em um ex-presidente ser bem remunerado por palestras e defender seu país e as empresas nacionais mundo afora. O problema é que Lula não está conseguindo deixar clara a linha divisória entre o que foi relações públicas e o que foi sua influência pessoal na concessão de benefícios e favores às empreiteiras no Exterior.
OS MUY AMIGOS - Em público, Lula exibe-se em cenas com o povão e militantes dos movimentos sociais. Nos bastidores, Lula, que se aliou a Sarney, Maluf e Collor, guarda a amizade de grandes empreiteiros e de um dos maiores e mais encalacrados latifundiários do Brasil, Carlos Bumlai. Desde o início da crise, o megapecuarista perdeu dois terços das suas 150 mil cabeças de gado e teve de vender uma fazenda de 150 mil hectares em Mato Grosso do Sul.
O CERCO LEGAL - Há seis frentes de investigações contra Lula. Até que porventura seja condenado, Lula segue apenas como suspeito, mas, seja qual for o desfecho jurídico, está evidente que o ex-presidente, no mínimo, não se esforçou para estancar a ânsia faturatória que o cercava por todos os lados.
A INDEFINIÇÃO - O criador Lula não parece saber o que quer da criatura Dilma. Ora solapa o governo da sucessora, com ataques à política econômica, ora o defende. Como Lula pensa acima de tudo em Lula, não será de estranhar que, ano que vem, diante do resultado das urnas municipais, ele pregue a renúncia de Dilma. Assim, passaria o abacaxi para o PMDB de Temer e tentaria voltar dois anos depois como salvador da pátria. Neste momento, porém, Lula parece apenas atordoado pela sucessão de fatos sem controle.