Seria surpreendente se o presidente russo, Vladimir Putin, perdesse a oportunidade de usar a queda do Airbus A321-200 no Egito para fins de propaganda contra os governos britânico e americano. Ao insinuar que Londres recusou-se a compartilhar informação de inteligência sobre uma ameaça de bomba com os russos, Putin transforma uma tragédia nacional em mais um fator interno de ressentimento contra a suposta hostilidade a Moscou.
Rússia e Egito chamam de especulação hipóteses sobre a queda do avião
Até o momento, o Kremlin vinha desqualificando as suspeitas de atentado no intuito de evitar relações entre a queda do Airbus e a intervenção russa na Síria. Uma guerra impopular longe de suas fronteiras, que acarreta um custo alto em vidas de civis russos, é tudo de que Putin não precisa. Ao levantar a suspeita de que uma bomba teria explodido a bordo, os britânicos frustraram essa operação de encobrimento. O governo russo foi obrigado a reagir de acordo com o costume: tudo não passa de uma conspiração ocidental - que, desta vez, envolve omissão criminosa em revelar riscos.
Obama admite possibilidade de bomba em avião russo que caiu no Egito
Da parte do Egito, o episódio acabou atraindo uma incômoda atenção para a política interna do país e criando embaraços no momento em que o presidente Abdel Fatah al-Sisi visita a Grã-Bretanha. Ontem, a organização suíça pró-direitos humanos Alkarama denunciou 323 casos de morte por tortura, maus tratos ou privação de atendimento médico nas prisões egípcias entre agosto de 2013, quando Al-Sisi assumiu, e setembro passado. Críticas ao convite de Cameron a Al-Sisi uniram o conservador Crispin Blunt e o trabalhista Jeremy Corbyn. "Muitos de nós terão testemunhos de primeira mão de pessoas sendo torturadas no sistema egípcio de justiça", disse Blunt, que preside o Comitê de Assuntos Estrangeiros da Câmara dos Comuns.