Se você jogar Lillian Witte Fibe no Google, vai encontrar o nome da jornalista ligado a expressões como "peitar", "criticar" e " trocar farpas". O gaúcho diria: ela é faca na bota. Não é só impressão. Com 42 anos de profissão e a experiência de editora-chefe do Jornal da Globo no currículo, a paulista até tentou sair fora da curva ao apresentar o Roda Viva da TV Cultura, mas, por divergências com a direção do programa sobre a "qualidade" dos entrevistados, acabou se despedindo cedo da função. Em Porto Alegre para participar do evento do Dia do Médico realizado pela Unimed Porto Alegre, Lillian anunciou que receberia a coluna rapidamente antes da palestra - pois não queria perder o telejornal.
- Meu perfil é muito de primeiro caderno, como costumo dizer. Sou muito voltada para a política e a economia internacional. O que me move mesmo é o hard news. E sou viciada em notícias. Completamente junk! Esses dias estavam me repreendendo em casa por não almoçar para acompanhar uma bomba que tinha saído. E eu gritava: "Mas eu perco o apetite!".
Ao longo da conversa, uma Lillian que deixou o lado de trás da bancada para se aproximar do público começa a se soltar e aparecer entre um riso que outro - ela brinca que a "velhice" dos 62 anos lhe amoleceu. Atualmente, a jornalista alimenta o site que leva seu nome e trabalha com opinião. A dela, no caso. Precisou tomar coragem para ir além da interpretação das notícias e passar a analisá-las e receber questionamento direto dos leitores.
- Comecei a trabalhar em 1973, na época da ditadura. Era um monólogo. A gente esperava chegar o jornal no dia seguinte para ver a matéria e o furo publicado. Nunca tinha retorno do público, nunca. Os chefes avaliavam o que a gente fazia, mas era muito unilateral. Hoje, o mundo deu uma cambalhota para o bem e para o mal. E, no jornalismo, agora é a vez da interação.
Mas críticas nunca foram problema para a Lilian. Ela é da tese de que "elogios nunca melhoraram o jornal" e ficava emburrada com o marido e colega, Alexandre Gambirasio, se ele não a assistisse em cena para dar sugestões do que ela poderia melhorar na próxima edição. À frente de contas no Twitter e no Facebook e começando a trabalhar com áudio e vídeo na internet, Lilian levanta prós e contras da tecnologia. Um dos pontos positivos para ela, que é viciada confessa em notícias e tenta buscar imparcialidade ao checar a mesma matéria em veículos de diferentes países, é a possibilidade de ler qualquer jornal na hora em que bem entender. O que a preocupa é a imprevisão do que vem por aí:
- O jornalista que fala que sabe o futuro da profissão está mentindo. É o que costumo dizer. Quando ralei para aprender alguma coisa de internet, veio outra ferramenta, outro navegador, outro app, linguagens totalmente diferentes. Com certeza, a profissão mudou muito e foi uma das mais prejudicadas pela internet com as demissões no mundo inteiro. Grandes jornais estão demitindo muita gente e acho que ainda não acabou.
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