Questionado na semana passada por jornalistas da Rádio Gaúcha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso garantiu que aceitaria um eventual convite da presidente Dilma Rousseff para conversar sobre saídas para a crise e adiantou o que diria a ela: ou assume efetivamente o comando de um processo compartilhado de busca de soluções, inclusive com a oposição, ou aceita deixar o governo em troca de reformas radicais e impopulares. Ainda que o pedido de renúncia pareça fora de contexto, a ideia de um grande pacto entre representantes de diferentes forças políticas do país, para destravar o ajuste fiscal e promover reformas estruturais, merece ser considerada e debatida.
O abismo entre o discurso e a prática de políticos dentro e fora do governo deixa evidente a dificuldade de um acordo mínimo entre parlamentares da situação e da oposição para enfrentar o impasse em que se encontra hoje. Começa pelo excessivo número de partidos, poucos dos quais ancorados em programas bem definidos e sem a preocupação predominante de auferir ganhos de qualquer ordem com o fato de estar dentro ou fora do governo. O país não tem como sair da paralisação imposta pela crise, que é de ordem política, moral e econômica, sem um comando firme, que a presidente da República não está conseguindo imprimir.
O país, como ressaltou na entrevista o ex-presidente, precisa de uma agenda, que por sua vez depende de alianças para ser posta em prática - e é justamente essa a maior dificuldade enfrentada hoje. O fato de a presidente se encontrar acuada por pedidos de impeachment e de o presidente da Câmara se ver às voltas com denúncias de corrupção reduz as possibilidades de um acordo para o enfrentamento das dificuldades. Ainda assim, esse é um desafio que precisa ser assumido, pois o país não tem como se manter nessa indefinição por muito tempo, sob pena de o ônus ficar elevado demais para todos os brasileiros.
Mais de um ano depois da reeleição da presidente da República, o país ainda está à espera de um rumo, que leve a uma recomposição de forças políticas, à aprovação de um ajuste fiscal e à retomada do crescimento, no menor prazo possível. Os brasileiros têm o direito de exigir que políticos brasileiros, da situação e da oposição, deixem divergências de lado para atender a demandas que são do interesse de toda a sociedade.