As manobras regimentais do presidente da Câmara para se manter no cargo, o uso do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff como moeda de chantagem política e o comprometimento de parlamentares com as fraudes da Operação Lava-Jato colocam o Congresso Nacional na condição de poder sob suspeita. Por mais que pareçam esgotados os absurdos cometidos, o parlamento acaba por renovar o acervo de notícias negativas. Como aconteceu nesta semana, quando o presidente da Casa anunciou para o plenário que desistiu do rito que ele mesmo havia previsto no caso de encaminhamento de eventual processo de impedimento da presidente da República.
O senhor Eduardo Cunha não desistiu dos procedimentos por ter admitido que o chamado manual do impeachment, já barrado por liminar do Supremo, não tem sustentação legal. O gesto do deputado é mais um no sentido de tentar agradar aos que podem poupá-lo na Comissão de Ética da Câmara, onde deve ser julgado por ter mentido que não tinha contas secretas no Exterior. Depois de cortejar e ter sido cortejado pela oposição, Cunha investe agora na cumplicidade com os governistas. Ao ser menos ameaçador na questão do impeachment, tenta dizer que possíveis algozes deveriam, em troca, fazer o mesmo.
A situação do protagonista do Congresso é tão constrangedora, que o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB) o classificou recentemente como "um psicopata, sem legitimidade para conduzir o processo de impeachment". É atividade pública rebaixada ao que tem de mais abominável, num momento em que os políticos em geral, em especial os pretendentes ao Palácio do Planalto, como mostram as pesquisas, têm o desprezo generalizado da maioria da população.