Com as liminares dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, ruiu a estratégia da oposição de recorrer ao plenário da Câmara no caso de o presidente Eduardo Cunha mandar arquivar o pedido de impeachment encabeçado pelo jurista Hélio Bicudo. Até o julgamento do mérito, Cunha está impedido de adotar o rito que ele mesmo definiu em resposta a uma consulta do deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
Se não pode recorrer ao plenário em caso de arquivamento de um pedido de impeachment, a oposição fica nas mãos de Cunha: só o presidente da Câmara pode decidir se o requerimento preenche as formalidades exigidas em lei para seguir tramitando. Isso significa que não basta uma aliança branca com o deputado acusado de manter contas secretas na Suíça. Para tirar Dilma do poder, a oposição terá de se aliar abertamente a Cunha e pagar o preço político dessa associação.
Os pedidos de liminar feitos por deputados do PT e do PC do B têm o claro objetivo de ganhar tempo, contando com o aumento do desgaste de Cunha por conta do dinheiro escondido na Suíça. Essa estratégia ficou clara com a rapidez dos petistas, associados a partidos como PSB, PSOL, Pros e Rede, em protocolar a representação no Conselho de Ética para cassar o mandato de Cunha por quebra de decoro. Além de ter aberto as contas e movimentado o dinheiro, o presidente da Câmara mentiu na CPI da Petrobras, quando disse que não tinha recursos no Exterior. Nenhum parlamentar do PSDB ou do DEM, principais adversários de Dilma, subscreveu a representação contra Cunha.
O ex-deputado Ibsen Pinheiro, que conduziu o processo de impeachment de Fernando Collor quando presidiu a Câmara, diz que o erro de Cunha foi ter anunciado antes o que faria. Ao responder à consulta do DEM, abriu caminho para a contestação. O governo ganhou tempo para montar sua estratégia de defesa na Câmara e consolidar a base remontada a partir da reforma ministerial, mas não tem garantia de sucesso. Cunha está ferido, mas quem o conhece sabe que, se for o caso, morrerá atirando.