O acerto da escolha do tema feminismo para uma questão do Enem, a partir de uma célebre citação da filósofa Simone de Beauvoir sobre o assunto, e da violência contra a mulher para o desenvolvimento da redação fica evidente já a partir da polêmica suscitada em âmbito nacional. Num país até hoje incluído entre os recordistas em crimes por razões de gênero, o debate ganhou ênfase neste ano com a sanção da Lei do Feminicídio que, juntamente com a normatização conhecida por Maria da Penha, tenta reduzir a impunidade nessa área. Uma mudança do quadro, porém, exige mais conscientização, o que depende de iniciativas como a propiciada pelo Enem.
Mais do que machismo, como o exposto em muitas manifestações depois da prova de domingo, principalmente pelas redes sociais, o comportamento de homens que agridem mulheres é criminoso e precisa ser combatido acima de tudo com base em mudanças culturais. O Direito Penal, que deve ser aperfeiçoado continuamente, ajuda a punir, mas não tem poder preventivo. O que pode ajudar o país a se livrar dessa chaga são políticas sociais e de enfrentamento da violência, além de campanhas educativas de forma continuada.
Muitos dos alunos que participaram das provas no final de semana têm conhecimento de casos de agressão à mulher e do fato de quanto costumam ser abafados, por ocorrerem no ambiente doméstico. É preciso que esses episódios sejam tratados com mais transparência. A escolha do tema para a redação do Enem 2015, provocando um debate nacional, é uma contribuição importante para livrar o país dos resquícios de uma sociedade machista e patriarcal.