Em andanças pelo Exterior ou em contatos com editores e repórteres estrangeiros, há uma constante indagação no ar: o que acontecerá com a presidente Dilma? Como brasileiro supostamente bem-informado, minhas respostas deixam o interlocutor frustrado: elas são um espeto corrido de "não sei", "ninguém sabe" e "é uma incógnita".
Jornalistas deveriam ser mais precisos em suas afirmações, mas o futuro político de Dilma e do país não se mostra apropriado a racionalizações cartesianas. Há tanta névoa, abismos e armadilhas na Praça dos Três Poderes, que, se convocarem três cartomantes para perscrutar o destino do governo, surgirão provavelmente três roteiros distintos.
Consultorias de Brasília especializadas em projetar cenários para clientes que dependem deles para seus investimentos estimam em até 70% a chance de Dilma deixar o poder. Parece uma porcentagem exagerada, levando-se em conta os tortuosos caminhos que conduziriam à destituição da presidente por via constitucional e a rejeição quase absoluta a uma saída para além dos marcos legais. A única certeza é que se pode antever tempos duríssimos para a presidente em quaisquer circunstâncias. Para concluir o ajuste fiscal e tentar reaprumar a economia e, por consequência, o país, falta-lhe tanto a confiança do próprio partido quanto a dos demais, que também caíram no discurso fácil do populismo com dinheiro dos outros.
Marcado por traições recorrentes, o casamento entre políticos que supostamente deveriam sustentar a presidente é hoje uma grande farsa. Mesmo depois de o Planalto mercadejar ministérios, há tanto ódio na relação entre o PT e outras siglas da base, em especial o PMDB, que um desfecho provável é o divórcio, com Dilma isolada e sem força para aprovar nada de relevante em um Congresso disposto a lhe infernizar cada minuto de mandato.
No topo do governo, as mensagens da presidente e seus ministros mais próximos guardam um tom otimista e conciliador. No mundo real, a tropa de choque petista e seus ventríloquos nas redes sociais passam o dia espezinhando os desafetos, o que inclui a própria base. Não faz diferença quem começou a discussão: no lado peemedebista da cama, a reação é de rancor, conspiração e planos para depois da separação. Neste inferno dentro de casa, o governo pode se arrastar até 2018. Ou fazer as pazes. Ou bater a porta e ir embora. Sabe-se lá. Tudo é incógnita.