Se alguém previsse, há um ano, que a questão migratória provocaria a mais grave divisão política da história da União Europeia, seria tachado de catastrofista. Poucos temas europeus foram mais explosivos no século passado do que o de migrantes e refugiados.
Nos 20 anos entre as duas guerras, o problema era conhecido como "questão das minorias". Alguns dirão que as minorias da época eram "autóctones", ou seja, surgiram, na maior parte dos casos, do colapso dos velhos impérios multiétnicos e da conversão de seus destroços nos atuais Estados-nações.
É uma maneira polida de dizer que, desta vez, o perigo vem de fora - e de esquecer que, desde as Termópilas, a maioria dos conflitos no Velho Continente foi travada em nome do que se julgava ser valores europeus contra ameaças alienígenas. Durante a Guerra Fria, o Muro de Berlim foi a tradução desse impasse em concreto e arame farpado. O mais surpreendente, na atual crise, é a rapidez com que a linguagem da tolerância deu lugar à da força.
Quando a Hungria ergueu uma barreira na fronteira com a Croácia, a medida foi atribuída à xenofobia do governo húngaro. Agora, é a Áustria "democrática" que pretende fazer o mesmo diante da Eslovênia. E o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, anunciou que centenas de milhares de migrantes serão enviados "de volta para os Bálcãs". Catastrofismo? Melhor esperar 2016.
O colunista não é azul, preto ou branco, mas se confessa fã de carteirinha da obra do repórter e escritor Léo Gerchmann. Por isso, garantirá seu exemplar autografado de Somos Azuis, Pretos e Brancos, que tem lançamento mais do que especial às 18h de hoje, na GremioMania Megastore da Arena.