Os sírios jamais esquecerão o dia 30 de outubro de 2015. Não porque tenha sido a data em que os Estados Unidos admitiram oficialmente a presença de um "pequeno contingente" de forças especiais americanas junto a grupos rebeldes na Síria.
Nem porque nesse dia tenha se completado um mês dos bombardeios russos contra alvos "terroristas" no interior do país. (A melhor definição de "terrorista", nesse caso, foi dada pelo chanceler russo Serguei Lavrov: "Se se parece com um terrorista, se age como um terrorista, se caminha como um terrorista, se luta como um terrorista, é um terrorista, certo?". Depois disso, que ninguém acuse os russos de usar critérios pouco claros.)
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O 30 de outubro entra para a história como o dia em que representantes de 19 países, incluindo Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita e Irã, concordaram numa reunião em Viena que "o Estado sírio deve ser preservado".
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Está-se falando, portanto, de um lugar em que os EUA mantêm um "pequeno contingente" de forças especiais para aconselhar grupos rebeldes, em que a Rússia caça "terroristas" e cujo espaço aéreo é cotidianamente violado por outros 11 países de um grupo que se autointitula (sem nenhuma ironia) "Amigos da Síria". Mas quem se detiver nesses detalhes correrá o risco de perder de vista o contexto mais geral: o Estado sírio deve ser preservado. Se o Brasil tivesse um representante em Viena, poderia acrescentar: "Duela a quien duela".
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Não se deve tomar John Kerry, Lavrov e coadjuvantes por maus humoristas. Eles querem emitir o sinal de que não pretendem ver a Síria transformada num novo Iraque. Sequer percebem a ironia do fato de que prometer preservar o Estado sírio, a esta altura, faz tanto sentido quanto garantir a preservação das preguiças gigantes.
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