Frustrada qualquer expectativa de que a Câmara, diante das evidentes deformações provocadas por doações de empresas a campanhas políticas, se decidisse a tornar mais rígidas as regras de contribuições, ficou com o Supremo Tribunal Federal (STF) a responsabilidade de decidir sobre o caso. Incompreensivelmente, os deputados federais não apenas se limitaram a restabelecer o financiamento empresarial como também reforçaram a margem para as chamadas doações ocultas, o que é inadmissível. Por isso, as atenções se voltam para a decisão do STF. A política brasileira não pode mais continuar convivendo com artifícios que permitem a políticos desviar recursos, comprometendo a administração pública.
Eleitores com um mínimo de informação não chegam a se surpreender com o fato de, mesmo depois de escândalos como os investigados no âmbito da Lava-Jato, parlamentares insistirem em manter doações de empresas jurídicas. Pior do que isso: o texto aprovado prejudica ainda mais a transparência ao dificultar a identificação da origem dos recursos. Na prática, significa que o uso de propina para irrigar campanhas eleitorais não teria mais como ser devidamente apurado. Prova, mais uma vez, de que políticos, de maneira geral, estão mais preocupados em se financiar, não importa como, do que em combater a corrupção.
É lamentável que o Congresso se mostre incapaz de moralizar o financiamento de campanhas políticas, restando aos brasileiros aguardar pelo Judiciário. Políticos não podem se constituir em meros instrumentos do setor privado, bancados por empresas, muitas vezes, com interesses diretos na máquina pública.