Vou contar uma história horripilante para quem acha que o mundo acaba amanhã porque o dólar passou dos R$ 4. É o caso de Chico Lopes e seus brancaleones. Chico é o personagem da crise cambial de 1999. Não existe mais gestor de câmbio tão criativo quanto Chico. Nem banqueiro como Salvatore Cacciola.
Chico e Cacciola são figuras típicas dos tempos do tucanato, que muitos gostariam de esquecer. Lembremos então o fim do mundo em 1999. O presidente do Banco Central era Gustavo Franco. O BC decidiu que o câmbio fixo seria flexível, e a coisa desandou. Gustavo levava uma goleada de 7 a 1, quando Fernando Henrique decidiu mandá-lo embora (hoje, ele dá palpites exatamente sobre câmbio).
Chico Lopes foi chamado por FH para defender o real. Assumiu o BC e lançou o inacreditável sistema da banda diagonal endógena (imagine se fosse hoje). O estouro do dólar quebrou os bancos Marka, de Cacciola, e FonteCindam, que haviam apostado no real. Em janeiro de 1999, a moeda americana custava R$ 1,22. Em março, pulou para R$ 2,16 em valores da época (quase R$ 4 hoje).
O juro básico da Selic também disparou e foi a 45% ao ano, três vezes a taxa de hoje. O Brasil tinha reservas de US$ 23 bilhões, e US$ 1,6 bi foram torrados com o socorro do BC a Cacciola.
Essa operação é uma das grandes mutretas financeiras da República e tinha o pretexto de que evitaria quebradeiras. O dólar subiu, desceu e subiu de novo em outubro, quando os especuladores diziam temer a eleição de Lula. Chegou a R$ 4, que seriam hoje, corrigidos, algo ao redor de R$ 7.
Cacciola já havia fugido para Roma. Ele, Chico Lopes e outros diretores do BC acabaram sendo condenados criminalmente. Mas só Cacciola pegou cadeia (imagine se fosse hoje).
Na diagonal, na perpendicular e na horizontal, o governo FH raspou as reservas. E passou o bastão a Lula, em 2003, com US$ 16 bilhões, logo depois de pedir mais um empréstimo de R$ 30 bi ao FMI. As reservas estão hoje em US$ 370 bilhões, e ainda há quem ache pouco.
Agora, deixe de comparar números e pense em uma comparação moral. Naquele tempo, mafiosos do governo, do Banco Central ou qualquer outra área, não eram presos.
O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello lamentou esses dias que todos os condenados dos tempos do tucanato no caso Marka-FonteCindam continuam soltos. Usam e abusam de recursos e protelações e andam voando, piando e arrotando por aí.