Enquanto consumidores tentavam se recuperar do susto com o aumento de 6% na gasolina e de 4% no diesel anunciado para as refinarias no final da noite de terça-feira, investidores festejavam a medida na bolsa. Faltou pouco para a alta nas ações da Petrobras tocar em 10% em um só dia: as preferenciais, mais negociadas, subiram 9,86%, e as nominais, 8,78%. O mercado adorou a mensagem embutida no reajuste-surpresa: a política de preços mudou. Mesmo para um dos mais atentos especialistas em petróleo e combustível, Walter de Vitto, analista da consultoria Tendências, foi inesperado.
- Houve clara mudança no padrão de reajuste. Não está mais relacionado à paridade internacional de preços. No dia do aumento, o preço da gasolina estava 2% acima da referência, e o do diesel, 7% a mais - explica.
Entre 2011 e 2014, só houve elevações de preço quando a defasagem era extremamente desfavorável à Petrobras. De Vitto lembra que as finanças da estatal não foram afetadas apenas por desvios flagrados na Operação Lava-Jato: a combinação de preços represados e altos investimentos esvaziaram o caixa e fermentaram a dívida, que está ao redor de R$ 500 bilhões.
- É por isso que o aumento inesperado provocou euforia no mercado: gera caixa, portanto mais valor para a empresa, e reflete uma postura mais compromissada em resolver essa situação de endividamento - pondera De Vitto.
Após Petrobras anunciar aumento de 6%, preço do litro da gasolina já chega a R$ 3,59 na Capital
André Braz, economista que se dedica aos Índices Gerais de Preço (IGPs) na Fundação Getulio Vargas, lembra que os percentuais valem somente nas refinarias. Em tese, poderiam chegar mais suaves aos consumidores. Na prática, lembra que, no aumento mais recente, em novembro de 2014, o repasse foi quase integral. E embora a gasolina pese mais para as famílias, o maior impacto na inflação é do diesel. E é maior ainda na série dos IGPs, que inclui o Índice de Preços no Atacado, com peso de 3,18 pontos percentuais. Mas a alta projetada pela FGV para o índice considerado oficial, o IPCA, é mais modesta: em vez de fechar o ano em 9,4%, com o reajuste dos combustíveis deve ir a 9,6%.
- Não estou no coro dos pessimistas. O câmbio começa a responder a sinais de que o governo caminha para a solução de problemas. Deve diminuir a tensão, o que também desarma a ameaça do câmbio sobre a inflação - diz Braz.