O pronunciamento da presidente da República na abertura da assembleia geral da ONU ofereceu aos brasileiros um conjunto de informações sobre a percepção que o governo tem da crise econômica. O dado principal do discurso é a convicção, mesmo que tardia, de que o modelo de desenvolvimento baseado na oferta de crédito e no aumento do consumo interno está esgotado. Disse a senhora Dilma Rousseff que o desafio que se apresenta agora, em meio às tentativas de colocar a economia em ordem, é o de retomar o crescimento em outras bases. A presidente poderia ter dito, sem receio de errar, que parte dessa preocupação deve ser também a retomada da confiança perdida.
A avaliação da presidente interessa à sociedade brasileira e ao público externo. Também os investidores internacionais aguardam os sinais de que o governo está convicto do que deve ser feito. Até agora, nem mesmo os pretensos aliados, que formariam a base parlamentar, demonstram coesão em torno de questões essenciais, como o ajuste ainda pela metade. Com o lastro político fragmentado, sem apoio do empresariado e sob a desconfiança dos trabalhadores, o governo tem barreiras grandiosas pela frente, como a que se ergue à proposta de ressuscitar a CPMF.
Mas merece reconhecimento o fato de que, contrariando as previsões, a presidente tenha abordado a corrupção e a crise econômica no pronunciamento. É um sinal de que começa a enfrentar publicamente, inclusive no Exterior, temas até bem pouco tempo evitados. A próxima etapa é a da reversão de expectativas, a partir de ações que, além do corte de despesas e da pretensão de aumentar impostos, sejam capazes de traçar novos rumos para que a economia volte a crescer.