Por Nilson Vargas, Gerente-executivo de Jornalismo de Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, GZH e Rádio Gaúcha e membro do Conselho Editorial da RBS
Uma coincidência repleta de significado: no fim de semana anterior ao das eleições municipais no Brasil, mais de 800 empresas de comunicação pelo mundo – entre elas, o Grupo RBS – celebraram o Dia Mundial da Notícia, chamando a atenção para a importância do jornalismo profissional na garantia da democracia e da liberdade de expressão. De fato, tanto quanto um sistema eleitoral confiável e eleitores votando com liberdade, uma imprensa independente é engrenagem indispensável no motor da democracia.
Nestas horas que nos separam do início da votação, em 6 de outubro, vale refletir sobre como este “vínculo sagrado” deve ser exercido
Nos episódios eleitorais, o papel da imprensa cresce, mas ele é perene, como expressou a jornalista filipina Maria Ressa, Prêmio Nobel da Paz em 2021, em entrevista ao colega Rodrigo Lopes: “É o jornalismo, baseado em fatos e evidências, que tem o dever permanente de defender os valores sobre os quais nossa civilização foi construída. Em todo o mundo são os jornalistas que vivem a sua responsabilidade de honrar este vínculo sagrado com os nossos públicos e as nossas comunidades”.
Nestas horas que nos separam do início da votação, em 6 de outubro, vale refletir sobre como este “vínculo sagrado” deve ser exercido. E uma das premissas é essencial: em grandes momentos, como uma cobertura eleitoral, o jornalista ganha relevância pelo conteúdo que produz para as diversas plataformas e não por algum holofote que queira atrair para si em nome de personalismo ou ambição de influenciar em resultados. Ele não é um lacrador e não deve engendrar suas pautas com o intento de seduzir algoritmos de audiência. Uma postura pirotécnica não lhe conferirá o respeito que torna longevas e vitoriosas carreiras como a da nossa colega Rosane de Oliveira, uma enciclopédia de conhecimento eleitoral e um pilar de bom senso e equilíbrio nas coberturas de eleições ao longo de décadas.
Há vários anos, na Redação de Zero Hora, um ritual se repete nas noites dos domingos de eleição. Votos apurados, resultados conhecidos, os editores imprimem em tamanho natural as páginas já finalizadas e as dispõem lado a lado no chão de um dos corredores entre as mesas. É o “tapete de páginas”, como foi batizada a cena. Momento de confirmar se todos os conteúdos importantes chegarão ao leitor e se há equilíbrio na cobertura. E de ir aos detalhes, como grafias de palavras, identificações em legendas de fotos e eliminação de palavras repetidas em títulos. Cada colega que participa deste ritual, de alguma forma, está conferindo se foi cumprida a missão tão bem descrita por Maria Ressa, de honrar o “sagrado vínculo” com públicos e comunidades. A resposta será positiva se o protagonismo estiver no conteúdo das páginas e não no sobrenome de quem as produziu.