Por Nelson P. Sirotsky, publisher e presidente do Conselho da RBS
Na condição privilegiada de sobrinho, sócio e amigo, eu já teria motivos suficientes para homenagear Jayme Sirotsky neste 13 de outubro, data em que o Presidente Emérito do Grupo RBS completa 90 anos de vida. Mas prefiro deixar em segundo plano o parentesco, a parceria empresarial e a amizade para destacar outra razão mais relevante para a homenagem que compartilho com os leitores deste espaço habitual de reflexões jornalísticas: Jayme é hoje, muito provavelmente, o brasileiro que mais contribuiu para as liberdades de imprensa e de expressão em nosso país, no continente sul-americano e em boa parte do mundo democrático.
Do ponto de vista pessoal e familiar, sou muito grato ao tio que acompanhou meu pai no registro de meu nascimento e que sempre esteve ao meu lado em todas as horas, especialmente nos momentos difíceis
Primeiro latino-americano a assumir a presidência da mais representativa entidade jornalística do planeta, a Associação Mundial de Jornais, Jayme Sirotsky alcançou em 1996, em Washington, o ponto mais alto de sua militância em entidades associativas comprometidas com a liberdade de imprensa e com a independência da indústria editorial.
Antes, ele já havia prestado inestimáveis serviços a entidades dedicadas à liberdade de informar e empreender. No Estado, participou de todas as associações ligadas ao jornalismo impresso, ao rádio, à televisão e à publicidade. Nacionalmente, apoiou e presidiu entidades como a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Também foi diretor da Sociedade Interamericana de Imprensa (Sip) e, nessa condição, esteve entre os cem especialistas reunidos no México, em 1994, para elaborar e aprovar a Declaração de Chapultepec, carta de princípios que oficializou as liberdades de expressão e de informação como direitos inalienáveis dos povos e das sociedades democráticas. Posteriormente, com envolvimento pessoal e habilidade diplomática, conseguiu que sucessivos presidentes do nosso país reconhecessem e aderissem oficialmente às recomendações do documento.
Em paralelo, dedicou-se visceralmente à comunicação no Rio Grande do Sul e a nossa empresa em particular. A RBS deve muito do que é hoje a Jayme Sirotsky, que participou ativamente da construção do grupo desde o seu início, ao lado de seu irmão Maurício Sirotsky Sobrinho. Referência de conhecimento e ética, ele tem sido ao longo da história da empresa um dirigente seguro, um conselheiro sereno e uma inspiração para todos nós.
Do ponto de vista pessoal e familiar, sou muito grato ao tio que acompanhou meu pai no registro de meu nascimento e que sempre esteve ao meu lado em todas as horas, especialmente nos momentos difíceis. Entre as muitas virtudes de Jayme, gosto de destacar três que o tornam uma pessoa muito especial. A primeira é sua disposição para agir: está sempre pronto para tentar, para experimentar e para empreender. A segunda característica que admiro nele é a sua curiosidade. Quer saber de arte, de literatura, de tecnologia, de meio ambiente, de qualquer coisa que represente novidade. E um terceiro aspecto que destaco em sua personalidade é o humor. Mesmo nos momentos delicados, sempre encontra uma palavra suave, uma brincadeira, uma tirada qualquer que acrescente mais sabor à vida.
Jayme Sirotsky é reconhecido como um diplomata da comunicação e um militante incansável das liberdades e da democracia, mas eu o considero – acima de tudo – um ser humano extraordinário, que conjuga ética, elegância e bom humor, razões pelas quais chega aos 90 anos tão amado e respeitado por familiares, amigos e admiradores. E no mundo todo – de sua Passo Fundo natal aos recantos mais distantes do planeta, por onde continua transitando com sua sede de conhecimento e de aventura.
Por tudo isso, nesta data tão significativa, quero deixar aqui registrado que é uma honra para todos nós continuar contando com a presença, com o dinamismo, com o aconselhamento e com o bom humor deste jovem de 90 anos.