Por Anik Suzuki, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Quando, aos 13 anos, decidi que seria jornalista, era estimulada pelo meu pai – perfeccionista e leitor voraz – a questionar e debater informações que lia em jornais e revistas da época. Eu e meus irmãos nos acostumamos a ver ele telefonar para as redações para perguntar sobre dúvidas em relação a algo que lera em uma reportagem, apontar dados incompletos, às vezes errados, e fazer sugestões.
Tenho saudade dessa leitura crítica, alerta, que não se conforma com informações superficiais, pela metade ou duvidosas. Que não se contenta com o “ouvi dizer” e vai atrás de conteúdos críveis, confiáveis. Esse consumidor de notícias atento e exigente tem uma contribuição muito importante para o jornalismo profissional de qualidade.
Vivemos um momento espetacular, de abundância de conteúdos, que nos chegam em alta velocidade, com diversidade de fontes e múltiplos acessos. Todos nós temos hoje uma autonomia jamais pensada para nos comunicar, compartilhar e formar nossas opiniões. Podemos fazer a própria curadoria dos assuntos que nos interessam e consumi-los quando e como quisermos. Esse é o lado maravilhoso do mundo digital.
Assim como os jornalistas e os veículos de comunicação, nós, consumidores de informação, temos um papel fundamental ao fortalecer o jornalismo profissional
Porém, essas possibilidades estão estimulando uma cultura danosa, com perdas para a cidadania: estamos menos exigentes em relação ao que nos chega como notícia. Sem muita reflexão, confiamos e compartilhamos, bem-intencionados que somos. Falta tempo para ler, ouvir e assistir a tudo que gostaríamos, mas não podemos abrir mão da exigência da informação confiável e de qualidade que entra na nossa vida e, muitas vezes, orienta nossas decisões e dá subsídios para uma leitura do mundo e para formar opinião.
As notícias distorcidas ou falsas (fake news) devem ser combatidas por todos. Assim como os jornalistas e os veículos de comunicação, nós, consumidores de informação, temos um papel fundamental ao fortalecer o jornalismo profissional, questionando e sugerindo para aprimorar, nunca para ofender ou desprezar. Cada vez que optamos pelo jornalismo sério, de qualidade, quando incentivamos nossas famílias e amigos a buscar fontes confiáveis, quando compreendemos o processo de fazer jornalismo e contribuímos de forma crítica e construtiva em nome do reporte correto dos fatos, ganhamos todos.