Por José Galló, empresário e membro do Conselho Editorial
A mídia tem um importante papel a cumprir no combate ao analfabetismo funcional, cuja causa é o nível educacional da população. E não vejo, muitas vezes, as rádios e TVs, os jornais, os meios digitais assumirem essa responsabilidade. Vamos ao contexto do assunto. O que é o analfabetismo funcional? Imagine uma pessoa que, ao ler o título de um jornal, ao assistir a uma notícia de um telejornal, ao receber uma informação pelas mídias sociais, não consiga entender do que se trata, raciocinar sobre as implicações do tema, ou, pior, sequer tenha condições de questionar se aquilo é verdadeiro ou falso. Aliás, o analfabetismo funcional é um dos maiores responsáveis pela existência de fake news.
Os números são estarrecedores. Uma pesquisa da Quaest deste ano revelou que 72% da população não sabe o que faz o STF. Outra pesquisa, encomendada pela Associação da Classe Média, de 2005, revelou que os brasileiros têm pouquíssimo conhecimento sobre impostos. Somente 3% sabem que pagam ICMS, por exemplo. E neste país trabalha-se cinco meses por ano somente para pagar impostos, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Os percentuais são muito altos: 40% do preço da água mineral é imposto. Roupa, 34%. Gasolina, 61%. Celular, 40%. Geladeira, 46%. A maior parte da população não tem a mínima ideia de que o Brasil é uma festa de impostos.
O analfabetismo funcional contribui com o perverso cenário da corrupção.
Um artigo da Constituição Federal exige que notas fiscais discriminem os impostos embutidos em cada item. Levou 12 anos para que a lei entrasse em vigor. Há muito tempo já, portanto, as notas fiscais listam todos os impostos dos itens comprados, e ninguém olha para isso. O cidadão precisa se questionar: se pago tudo isso de impostos, o que tenho de exigir em troca? Educação, saúde, segurança, infraestrutura.
O analfabetismo funcional contribui com o perverso cenário da corrupção. No início da Lava-Jato, uma pesquisa perguntava o que era corrupção. A grande maioria não sabia, não conseguia entender que você paga muitos impostos, que esses recursos deveriam ser usados para saúde, educação etc. e que alguém rouba esse dinheiro. O valor desviado é o seu dinheiro, não é do Estado. O Estado recebe os impostos e tem obrigação de atender a todos os seus direitos. Mas, como não tem uma boa gestão, acaba se endividando, e você, consumidor, fica endividado também.
Esclarecer tudo isso é o papel da mídia. Não vejo essa questão dos impostos sendo explorada e mais bem divulgada nos meios de comunicação. A TV não considera a realidade de analfabetismo funcional do país, que está em todas as classes. Tratar disso de forma clara e mostrar essas verdades reduz o analfabetismo funcional, ajuda as pessoas a interpretarem seu mundo e amplia a cidadania.