Ahmed al-Sharaa, líder do grupo islâmico Hayet Tahrir al-Sham (HTS), fez uma aparição simbólica na Mesquita de Omíadas, em Damasco, neste domingo (8). Conhecido anteriormente pelo seu nome de guerra Abu Mohammed al-Jawlani, ele discursou para uma multidão que entoava Allahu akbar (Deus é grande, em tradução literal), conforme vídeo compartilhado pelos rebeldes em suas redes sociais.
A visita ocorre no mesmo dia em que o HTS anunciou a captura de Damasco, marcando o fim do regime de Bashar al-Assad após décadas de domínio. A capital síria, até então considerada um bastião inabalável do governo, foi tomada sem resistência militar, segundo os rebeldes. As informações são dos jornais O Globo e Estadão.
Símbolo de vitória
A Mesquita de Omíadas, também chamada de Grande Mesquita de Damasco, é um dos locais mais sagrados para o islamismo e faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco. O local abriga importantes mosaicos e minaretes históricos, tornando-se palco de um momento marcante para os rebeldes, que celebraram ali a queda do regime.
Horas antes, o HTS havia consolidado o controle sobre Aleppo, segunda maior cidade do país. Após o anúncio da "libertação" de Damasco, centenas de pessoas tomaram as ruas em comemoração.
No bairro do palácio presidencial, uma multidão pisoteou uma estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar, enquanto outras imagens mostraram ataques contra a Embaixada do Irã e a residência do embaixador da Itália.
Mudança de postura do HTS
Sob a liderança de al-Sharaa, o HTS tem adotado uma abordagem menos ideológica e mais pragmática. Ao contrário do Estado Islâmico, que utilizava táticas mais violentas contra minorias, o grupo emitiu decretos prometendo proteção a cristãos e xiitas.
Analistas consideram essa estratégia uma tentativa de conquistar apoio interno e externo, mas a promessa de tolerância ainda é vista com ceticismo.
O primeiro-ministro Mohammad Ghazi al-Jalali, que anunciou disposição para cooperar com os rebeldes, ressaltou que o foco agora é reconstruir a Síria e acolher refugiados que deixaram o país durante os anos de conflito.
Os rebeldes declararam na TV pública que este é o início de uma Síria "livre". Com a queda de Assad, o país enfrenta incertezas sobre seu futuro político e social. O paradeiro do ex-ditador é desconhecido, enquanto o HTS busca consolidar sua liderança em um cenário marcado por destruição e deslocamento em massa.
Quem é o líder sírio?
Neste domingo, rebeldes declararam Damasco livre do regime de Bashar al-Assad, após o líder sírio deixar o país. Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Assad participou de conversas com diferentes partes do conflito, mas seu paradeiro não foi revelado.
Nascido Ahmed Hussein al-Shara, na Arábia Saudita, é filho de exilados sírios e retornou com sua família à Síria no final da década de 1980. Em 2003, viajou para o Iraque, onde integrou a Al-Qaeda e lutou contra a ocupação dos Estados Unidos.
Al-Shara foi preso por vários anos em uma prisão americana no Iraque. No início da guerra civil síria, retornou ao país e fundou a Frente Nusra, afiliada à Al-Qaeda, que mais tarde evoluiu para o grupo Hay'at Tahrir al-Sham (HTS). Durante esse período, adotou o nome de guerra Abu Mohammad al-Golani.
Desde que rompeu com a Al-Qaeda, Al-Shara e o HTS têm buscado legitimidade internacional. O grupo abandonou ambições jihadistas globais e concentrou-se em governar o território sob seu controle na Síria.
Segundo a ONU, o HTS criou uma administração que inclui cobrança de impostos, fornecimento de serviços públicos limitados e emissão de documentos de identidade para os moradores. No entanto, o grupo enfrenta críticas internas e externas por táticas autoritárias e repressão à dissidência.