O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Com a queda do regime de Bashar al-Assad, que perdurou durante 24 anos na Síria, inicia-se um novo cenário no xadrez geopolítico da região do Oriente Médio e também a nível internacional. A maioria dos países vizinhos sai ganhando, enquanto os perdedores são, principalmente, os antigos aliados do ditador.
A coluna conversou com Issam Menem, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais e pesquisador do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre o assunto. O especialista explica que, entre os "perdedores", é possível destacar a Rússia, o Irã e o Hezbollah.
— Esses eram os três grandes pilares da manutenção de al-Assad no poder e, no momento, não estão mais disponíveis para auxiliar nesse cenário, o que talvez explica a rápida queda de Assad do poder.
Segundo Menem, a Rússia, além de estar focada na guerra com a Ucrânia, tinha a Síria como o maior cliente bélico no Mundo Bélico e também mantinha uma presença militar significativa no país, por isso se enfraquece. O Irã perde um importante aliado político e vê agora o território sírio como um ambiente hostil. O Hezbollah, por sua vez, já estava enfraquecido diante do conflito com Israel.
Menem lembra que o Iraque sai também enfraquecido, pois perde seu aliado al-Assad e, com a ascensão de grupos extremistas na Síria, a relação territorial entre os dois países pode ser afetada.
Por outro lado, para os Estados Unidos, a mudança se torna benéfica, já que al-Assad era considerado um grande rival, além de proporcionar um fortalecimento para seus parceiros na região.
— O grande desafio para os EUA será se tornar um mediador entre os curdos, que são seus aliados e administram um terço do território sírio, e o novo governo que está se instalando.
Para Israel, a queda de al-Assad também é vantajosa, pois afeta diretamente o Hezbollah, seu rival, já que compromete o corredor de armas que o Irã mantinha para o grupo no Líbano.
Os países da União Europeia (UE) também saem, em sua maioria, beneficiados, já que muitos refugiados sírios se deslocaram para a Alemanha e França, assim como para a Jordânia.
A Turquia, na visão do doutor, sai como a grande vitoriosa desse episódio, principalmente pela questão social, já que o país é o que mais recebe refugiados, e a questão securitária que buscam efetivar uma zona de segurança entre o território sírio e o turco, como forma de mitigar infiltrações de grupos armados curdos na Turquia.