No domingo (8), quando forças rebeldes anunciaram a tomada de Damasco e decretaram o fim do governo de Bashar al-Assad, a notícia também foi celebrada a mais de 10 mil quilômetros de distância da Síria. Em Porto Alegre, um grupo de refugiados sírios não conteve a emoção ao saber que o regime que os obrigou a deixarem seu país, há 13 anos, estava finalmente chegando ao fim.
— Nem acredito que esse dia chegou, estava quase perdendo a esperança. Mas agora sim chegou ao fim esse regime do medo — afirma Feras Alazhar, 35 anos, que mora em Porto Alegre desde 2018.
Feras é um dos sócios do Dubai Shawarma, restaurante que vende lanches típicos de seu país de origem, localizado na Rua General Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa. Ele foi obrigado a deixar a Síria em 2011, após começar a sofrer perseguição ao ser filmado participando de um protesto contra o governo de Assad. Fugiu para a Rússia antes de vir à capital gaúcha, mas seus pais seguem em Damasco; seu irmão foi preso pelo regime em 2014, e ninguém de sua família voltou a ter notícias dele.
— Quando soubemos da notícia eu estava no restaurante, e chorava junto com os clientes. Nem consegui dormir de domingo para segunda de tanta emoção — destaca.
Antes de Feras, chegou a Porto Alegre o seu primo, Adib Mokhallalati, 38. Juntos, abriram o Dubai Shawarma em 2019.
Os pais de Adib estão refugiados na Jordânia, mas ele ainda tem parentes, como avós, tios e primos, morando na Síria. Seu irmão, Muaz, fugiu para a Arábia Saudita, também em 2011, e mais tarde o encontrou em Porto Alegre.
— Tudo aconteceu muito rápido, quando as notícias começaram a chegar, acompanhamos com mais atenção. Um regime de 54 anos que foi derrubado em poucas semanas — ressalta, lembrando também o período de Hafez al-Assad, pai de Bashar, no comando do país.
Muaz Mokhallalati, 35, também mantém uma operação gastronômica em Porto Alegre. Trata-se do Muka Cake, localizado na esquina das ruas Vasco da Gama e Fernandes Vieira, no bairro Bom Fim.
— Essa é a melhor notícia que recebemos em muito, muito tempo. É uma felicidade muito grande — reforça.
Esperança
Os sírios que moram em Porto Alegre observam com entusiasmo o movimento que derrubou o regime de Assad. Para eles, o grupo, que seria formado "pelo próprio povo sírio que não aguentava mais a opressão" e que tem "apoio de praticamente toda a população", tem o objetivo de instaurar um regime democrático no país.
— Acho que as coisas vão melhorar muito rápido. Deve ter um período de estabilização do país, que precisa se reorganizar, e depois esperamos finalmente termos uma Síria com democracia e liberdade. Aqui, os brasileiros votam para presidente a cada quatro anos, já eu nunca tive essa experiência em meu país — relata Feras Alazhar.
Mesmo com a mudança de regime, o grupo de sírios que vive na Capital não almeja se mudar de volta para a Síria. Já estabelecidos em Porto Alegre, com negócios e família, pretendem continuar morando por aqui. Contudo, estão muito empolgados com a possibilidade de pelo menos voltar a visitar seu país natal, para onde nenhum deles retornou desde a saída forçada em 2011.
— Vamos continuar acompanhando as notícias para ver como essa situação evolui. Depois que a poeira baixar, queremos passar um bom período na Síria, visitando familiares e amigos que não vemos há muitos anos. Quero ir já em 2025 pra lá — diz Adib.