O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (16) que conversará com os líderes de Rússia e Ucrânia, Vladimir Putin e Volodimir Zelensky, para pôr fim à guerra desencadeada pela invasão de Moscou há quase três anos, pois se trata de uma "carnificina".
"Falaremos com o presidente Putin" e também com "Zelensky e os representantes da Ucrânia. Precisamos acabar com isso, é uma carnificina", declarou a jornalistas em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida.
Durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos, Trump prometeu que acabaria com a guerra em um dia, mas sem explicar como.
O conflito deixou cidades em ruínas, "não há um prédio de pé", afirmou Trump em coletiva de imprensa.
O magnata usou sua experiência como empresário imobiliário em Nova York para fazer uma comparação.
"São apenas escombros. Igual a quando derrubo um prédio em Manhattan", afirmou. "A propósito, há muita gente nesses prédios."
A Ucrânia e seus aliados europeus temem que Trump force Kiev a fazer muitas concessões, como ceder os territórios conquistados pela Rússia, o que daria a Putin uma vitória geopolítica e militar de fato.
Especificamente, a Rússia exige que Kiev ceda as cinco regiões anexadas por Moscou (Donetsk e Luhansk no leste, e Zaporizhzhia e Kherson no sul, além da Crimeia, anexada em 2014) e que renuncie à adesão à Otan.
Por muito tempo, Zelensky se opôs categoricamente a fazer concessões a Putin, mas nos últimos meses moderou sua posição devido às dificuldades do seu exército no front e ao medo de uma diminuição da ajuda ocidental.
O presidente ucraniano sugeriu a ideia de que a Ucrânia renuncie temporariamente a reivindicar territórios controlados pela Rússia em troca de garantias de segurança da Otan e mais entregas de armas ocidentais.
Nesta segunda-feira, Putin fez um balanço dos combates de 2024 e se congratulou com o avanço de suas tropas.
As forças ucranianas, em menor número e menos armadas que as russas, perdem terreno gradualmente.
Os soldados de Moscou estão às portas de Pokrovsk, uma área de mineração e centro logístico no leste da Ucrânia, a qual tentam tomar há meses.
Também nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores da Polônia afirmou que a Rússia é quem deve ser "forçada" a iniciar as negociações de paz e não a Ucrânia, em meio ao temor de que a futura administração de Donald Trump nos Estados Unidos imponha um acordo desfavorável para Kiev.
A Polônia, um dos principais apoios da Ucrânia desde a invasão russa de fevereiro de 2022 e que serve como centro logístico para a ajuda militar ocidental, assumirá a presidência rotativa da União Europeia em 1º de janeiro de 2025.
- "Crucial" -
"As tropas russas dispõem da iniciativa estratégica em toda a linha de contato", afirmou Putin em um discurso diante dos principais comandantes do Ministério da Defesa.
O presidente russo também reivindicou a "libertação" de 189 localidades durante 2024, usando o vocabulário utilizado por Moscou para designar a tomada de cidades e vilarejos ucranianos.
"O ano que acaba foi um ano crucial no cumprimento dos objetivos da operação militar especial", acrescentou, usando o termo oficial russo para o conflito.
O ministro da Defesa, Andrei Belousov, declarou na mesma reunião que as tropas russas tomaram quase 4.500 km² de território ucraniano neste ano e que avançam cerca de 30 km² por dia.
Segundo uma análise da AFP, com base em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW na sigla em inglês), uma organização americana, o exército russo avançou mais de 725 km² em território ucraniano em novembro, seu maior ganho territorial em um mês desde março de 2022, nas primeiras semanas de sua ofensiva em grande escala.
O recorde anterior era de outubro, com 478 km².
A Ucrânia tem uma superfície de mais de 600 mil km², dos quais a Rússia controla quase 20%, incluindo a península da Crimeia.
O Exército russo também reivindicou nesta segunda-feira a conquista de uma nova localidade, Yelyzavtivka, situada a cerca de dez quilômetros ao sul de Kurakhove, uma cidade industrial do leste.
- Inteligência artificial -
O governo ucraniano trabalha para conter as tropas russas e exige mais apoio de seus aliados ocidentais.
Mas Trump declarou repetidamente que a Ucrânia "provavelmente" receberá menos ajuda de Washington assim que assumir o cargo em 20 de janeiro.
Na sexta-feira, o Kremlin comemorou a postura de Trump de "se opor firmemente" à utilização de mísse americanos pela Ucrânia para atacar o território russo.
A administração do presidente em fim de mandato, Joe Biden, deu autorização em novembro, mudando de posição após o envio, segundo o Ocidente e Kiev, de milhares de soldados norte-coreanos em apoio aos russos.
Putin também acusou novamente nesta segunda-feira os países da Otan, aliados da Ucrânia, de representar uma ameaça para a Rússia e afirmou que as forças de Moscou estão começando a usar sistemas assistidos por inteligência artificial.
* AFP