Os deputados de esquerda e de extrema direita derrubaram, nesta quarta-feira (4), o governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, que teve o governo mais curto da história recente da França.
Com 331 votos a favor, acima da maioria absoluta, de 288, a Assembleia Nacional (Câmara Baixa) pôs fim ao governo de Barnier, que durou menos de cem dias, rejeitando, ainda, seu orçamento para 2025.
Na França, o primeiro-ministro governa junto ao presidente, que pode tanto convocar eleições para eleger um premiê quanto indicar um nome fora do pleito.
Embora a censura não afete Emmanuel Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier, de 73 anos, como primeiro-ministro em setembro, em nome da "estabilidade".
— Hoje, votamos pela censura ao seu governo, mas, sobretudo, marcamos o fim de um mandato: o do presidente — afirmou o deputado esquerdista Éric Coquerel, ao defender a moção de censura da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP).
Sem pedir diretamente sua renúncia, a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, desafiou Macron, com quem disputou a presidência em 2017 e 2022, a refletir se pode continuar no cargo.
— Cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho. Cabe à sua razão decidir se pode ignorar a evidência de um repúdio popular maciço — destacou Le Pen.
Na terça-feira (3), o presidente, em visita à Arábia Saudita, chamou de "ficção política" uma possível renúncia antes de 2027, quando termina seu segundo mandato. O presidente de centro-direita, de 46 anos, não pode se reeleger.
Le Pen aparece com força nas pesquisas para a presidência, mas a Justiça pode frustrar seu sonho se, em 31 de março, decidir inabilitá-la por cinco anos, como solicitou o Ministério Público em um caso de malversação de fundos da União Europeia.
Governo mais breve
O sucesso da moção de censura tornou o governo de Barnier o mais breve da Quinta República francesa, iniciada em 1958.
Embora inicialmente tenha se recusado a apoiar uma moção de censura, Le Pen acabou por fim dando um empurrão em Barnier. O motivo foi que ele se negou a renunciar ao adiamento de janeiro para julho da revalorização das pensões em seu projeto de orçamento de 2025, após várias concessões.
Com um orçamento focado em reduzir os gastos públicos e aumentar temporariamente os impostos para grandes empresas, o governo procurava reduzir o déficit (projetado em 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).
— Esta moção de censura piora tudo e torna tudo mais difícil — disse Barnier ao final do debate, após ter atrelado à "responsabilidade" em um momento econômico tenso, com o prêmio de risco da dívida francesa equiparado ao da Grécia.
O clima social também é tenso. Na quinta-feira (5) está prevista uma greve de funcionários públicos, enquanto prossegue a mobilização dos agricultores, especialmente contra um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
A instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a UE, a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
Sucessor
Sem poder convocar novas eleições legislativas até julho próximo, o presidente Macron parece disposto a nomear um novo primeiro-ministro "rapidamente", antes mesmo da cerimônia de abertura da catedral de Notre Dame, prevista para o fim de semana, segundo seus interlocutores.
Mas, "ainda não há nada decidido", afirma o entorno de Macron, que demorou dois meses para nomear Barnier.