Milhares de libaneses deslocados pelos confrontos entre Hezbollah e Israel começaram a voltar para suas casas nesta quarta-feira (27), graças a um cessar-fogo estabelecido após dois meses de guerra.
A trégua, em vigor desde a madrugada (23h de terça, no horário de Brasília), interrompe um conflito que deixou milhares de mortos e 900 mil deslocados no Líbano, além de dezenas de milhares de deslocados no norte de Israel.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou que o exército vai "reforçar a sua mobilização" no sul do país, no âmbito da implementação deste acordo.
Sem esperar a autorização dos militares, milhares de habitantes do sul do Líbano, da periferia sul de Beirute e do Vale do Bekaa, no leste, todos redutos do Hezbollah, iniciaram a sua viagem de retorno para casa.
Nos subúrbios ao sul da capital, militantes do Hezbollah circulavam de moto agitando bandeiras amarelas do partido e gritando palavras de ordem elogiando Hassan Nasrallah, líder que morreu no final de setembro em um ataque israelense.
— Voltamos a este bairro heroico que venceu, estamos orgulhosos — disse à AFP Nizam Hamadé, engenheiro que pretendia inspecionar sua casa.
A estrada que leva ao sul do Líbano estava obstruída por veículos e vans lotadas, com motoristas cantando e buzinando.
— Nosso sentimento é indescritível. O Líbano venceu, o Estado venceu, o povo venceu — gritou um pai de família.
O exército libanês pediu à população que aguardasse a saída das tropas israelenses antes de voltar às aldeias e vilarejos na linha da frente.
As Forças Armadas israelenses, que emitiram um aviso semelhante, anunciaram que haviam disparado contra um veículo que se aproximava das suas posições, forçando-o a recuar.
O conflito
As hostilidades começaram no dia seguinte ao ataque do grupo terrorista Hamas que desencadeou a guerra em Gaza em 7 de outubro de 2023, quando o Hezbollah abriu uma frente contra Israel em apoio ao seu aliado palestino.
Depois de quase um ano de disparos transfronteiriços, Israel lançou uma campanha de bombardeios massivos contra o Hezbollah em 23 de setembro e enviou tropas terrestres para o sul do Líbano uma semana depois.
Segundo as autoridades libanesas, pelo menos 3.823 pessoas morreram no país devido a este conflito, a maioria delas desde setembro. Do lado israelense, 82 soldados e 47 civis morreram em 13 meses, segundo as autoridades do país.
Novo começo
O acordo forjado durante semanas entre os Estados Unidos e a França significa um "novo começo" para o Líbano, comemorou na terça-feira (27) o presidente americano, Joe Biden.
O primeiro-ministro libanês disse esperar que este acordo abra "uma nova página" na história do país e que, no processo, seja eleito um presidente da República, cargo vago há mais de dois anos.
O plano acordado prevê uma retirada progressiva durante 60 dias dos combatentes do Hezbollah e das tropas israelenses do sul do Líbano, na fronteira com Israel, para permitir a mobilização do exército libanês, explicou o enviado americano Amos Hochstein.
Segundo Biden, o acordo visa levar ao cessar permanente das hostilidades entre ambos os lados.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a duração da trégua dependerá "do que acontecer no Líbano".
— Manteremos total liberdade de ação militar no Líbano em pleno acordo com os Estados Unidos. Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos — alertou.
O grupo islamista, que permitiu ao presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri, negociar em seu nome, não comentou o acordo.
O Irã, principal apoio militar e financeiro do Hezbollah e do Hamas e arqui-inimigo de Israel, celebrou.
Um alto funcionário do Hamas também descreveu o acordo como "uma conquista importante" e disse à AFP que o movimento palestino "está pronto para um acordo de cessar-fogo e um acordo sério para a troca de prisioneiros".
O Ministério das Relações Exteriores do Catar também aplaudiu o pacto e expressou a sua "esperança de que leve a um acordo semelhante" em Gaza.
Mas, depois de aprovar o acordo no seu gabinete, Netanyahu garantiu que a trégua permitirá a Israel concentrar-se nas tensões com o Irã e na guerra com o Hamas em Gaza, palco de contínuos bombardeios.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, reiterou que o "objetivo final" de Israel é conseguir a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.