Centenas de pagers e walkie-talkies pertencentes a membros do Hezbollah explodiram em todo o Líbano nesta semana, em um ataque sem precedentes que matou 37 pessoas e feriu mais de 2,9 mil.
As explosões ocorridas na terça (17) e quarta-feira (18) foram um duro golpe para a milícia pró-iraniana, que culpou Israel e prometeu vingança. O líder do movimento islamista, Hasan Nasrallah, tem um discurso marcado para esta quinta-feira (19), o que aumenta as expectativas sobre qual será a resposta do grupo.
O que aconteceu?
O ataque começou na terça-feira (17), quando centenas de pagers de membros do Hezbollah explodiram. As explosões ocorreram quase que simultaneamente em vários redutos do movimento no sul de Beirute, no leste do Líbano e na fronteira sul. Este primeiro ataque deixou pelo menos 12 mortos e 2,8 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde do Líbano.
E enquanto membros do movimento contavam os mortos pelos pagers, walkie-talkies explodiram em redutos do Hezbollah na quarta-feira (18), deixando 25 mortos. Uma explosão, inclusive, aconteceu durante o funeral de quatro milicianos do Hezbollah mortos pela explosão de dispositivos de comunicação no dia anterior.
O ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, disse ao portal Al Jazeera que a segunda onda de explosões foi mais letal porque os walkie-talkies são dispositivos mais volumosos.
As milícias do Hezbollah estavam preocupadas com a segurança das suas comunicações, depois que perderam vários integrantes em bombardeios israelenses nos últimos meses. Estes ataques semearam o pânico em todo o Líbano e não apenas nos redutos deste movimento aliado ao grupo palestino Hamas.
O que Israel disse?
Israel absteve-se de comentar as explosões, que começaram horas depois de ter anunciado a extensão até sua fronteira com o Líbano dos objetivos da guerra iniciada em outubro contra o Hamas na Faixa de Gaza.
Desde o início da guerra em Gaza, a fronteira com o Líbano tornou-se palco de duelos de artilharia quase diários entre o exército israelense e o Hezbollah, que. provocaram o deslocamento de dezenas de milhares de civis nos dois países. Estes confrontos, que não chegaram a constituir uma guerra aberta, causaram a morte de centenas de pessoas no Líbano, a maioria delas combatentes, e dezenas em Israel, incluindo soldados.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse na quarta-feira que o "centro de gravidade" da guerra está se deslocando para o norte.
Como os ataques aconteceram?
Uma razão para a letalidade do ataque é que é incomum que dispositivos de comunicação sejam usados como armas. Especialistas consideram provável que os explosivos tenham sido colocados dentro dos dispositivos antes da entrega dos aparelhos ao Hezbollah.
Uma investigação preliminar mostrou que os pagers "foram pré-programados para explodir e continham materiais explosivos colocados junto à bateria", disse uma fonte dos serviços de segurança libaneses, que falou sob condição de anonimato.
O jornal norte-americano The New York Times informou que os pagers que explodiram foram encomendados à empresa taiwanesa Gold Apollo. O grupo empresarial, por sua vez, negou e informou que os aparelhos foram fabricados pela empresa associada BAC Consulting KFT, na Hungria.
Um porta-voz do governo húngaro afirmou que a empresa era "um intermediário comercial, sem fábricas" no país.
A empresa japonesa Icom afirmou que parou de produzir há 10 anos o modelo de walkie-talkies que supostamente explodiu simultaneamente no Líbano na quarta-feira.
Israel está envolvido?
Alguns veículos de comunicação e especialistas israelenses afirmam que a explosão dos pagers dá sinais de ser obra do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, famoso por operações que tiram proveito das vulnerabilidades de seus alvos — como os assassinatos em vingança pela morte de 11 atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.
John Hannah, do Instituto Judaico de Assuntos de Segurança Nacional dos Estados Unidos, classificou o ataque usando os pagers como uma "demonstração surpreendente da habilidade da inteligência israelense".
Hannah disse que o Mossad demonstrou repetidamente "a capacidade de penetrar profundamente nas redes mais sensíveis dos seus piores inimigos".
Os ataques ocorrem quase um ano depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, que foi um duro golpe para os serviços de inteligência de Israel.