O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (25), em Nova York, que a ação de Israel na Faixa de Gaza e no Líbano não tem precedentes. Também afirmou que o mundo tem conflitos "à deriva" por falta de governança global. Ele deu as declarações em entrevista a jornalistas antes de embarcar de volta ao Brasil após participar da Assembleia Geral da ONU.
— Mais uma vez a participação do Brasil na conferência da ONU foi um momento de marcar posição com relação às coisas que estamos reivindicando há algumas décadas — disse Lula.
Ele se refere principalmente à pressão para que o Brasil e outros países ganhem mais protagonismo nos mecanismos globais. Segundo Lula, o país insiste na necessidade de renovar as Nações Unidas para a organização ganhar capacidade de resolver conflitos. Esses conflitos, segundo ele, "estão à deriva porque não tem governança global no mundo".
Lula disse que a geopolítica atual é diferente do que era quando a ONU foi configurada, depois da Segunda Guerra Mundial. Defendeu uma reforma do Conselho de Segurança, acabando com o direito a veto, para aumentar o "poder de comando" da organização.
— Se isso acontecer, a gente poderia evitar muitos conflitos que tem hoje — comentou. — O mais visível que nós estamos vendo, porque Sudão e Iêmen parecem que são esquecidos pela imprensa mundial, o que está acontecendo em Israel, na Faixa de Gaza e agora no Líbano, é uma coisa que não tem precedente.
Ele também voltou a defender a criação de um Estado palestino. Lula criticou ainda a falta de cumprimento das resoluções da ONU nesse caso. Lula também mencionou a guerra entre Rússia e Ucrânia. Segundo ele, o conflito não precisava ter começado.
— Não existe nenhuma possibilidade de uma solução militar naquela guerra, é por isso que haja uma resolução diplomática — declarou.
Segundo o petista, o Brasil insiste em uma discussão de paz, que não é fácil. Ele disse que não é possível saber como uma guerra termina. O presidente ainda mencionou a proposta de paz feita por China e Brasil para acordo entre Rússia e Ucrânia, mas que é preciso saber se os dois países beligerantes querem discutir.
— Se os dois não quiserem, não tem conversa — declarou.
O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky disse ter dúvidas do "real interesse" do Brasil e da China ao desejarem liderar o diálogo entre Kiev e Moscou. Lula rebateu:
— O que estamos propondo não é fazer a paz por eles. Estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir a Ucrânia enquanto um país soberano e que a Rússia sobreviva. Eles não precisam aceitar a proposta da China e do Brasil porque não tem proposta. Tem uma tese de que é importante começar a conversar. Ele, se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não é militar — disse o brasileiro.
Comunidade judaica critica posicionamento de Lula
Na terça-feira (24), a Confederação Israelita do Brasil (Conib) havia classificado o pronunciamento de Lula sobre a guerra no Oriente Médio, na Assembleia Geral da ONU, como desequilibrada. Veja a íntegra do comunicado:
"A CONIB lamenta a postura desequilibrada do governo brasileiro em relação aos trágicos conflitos no Oriente Médio, como formulada pelo presidente Lula na sua fala na ONU. O presidente mostra simpatia com vítimas do conflito em Gaza e no Líbano, mas ignora as vítimas de Israel. Esquece que esses conflitos foram iniciados pelos grupos terroristas Hamas e Hezbollah (sustentados pelo Irã) e esquece que Israel está se defendendo.
Durante 11 meses, o Hezbollah atacou o Norte de Israel indiscriminadamente, matando, inclusive, 12 crianças israelenses que jogavam futebol. O Brasil tornou-se aliado de primeira hora do regime iraniano, um pária internacional que tortura e mata seus cidadãos e persegue mulheres e a comunidade LGBTQIA+. Por que o Brasil não usa essa proximidade com o Irã em favor da paz, fazendo gestões para deter os ataques do Hezbollah e assim encerrar o conflito libanês? Infelizmente, o governo Lula parece querer adaptar a tradição de equilíbrio da política externa brasileira a essa sua guinada radical de aproximação com o Irã. O Brasil todo paga por isso com o nosso crescente desprestígio e descrédito na arena internacional."
A entidade não distribuiu nova nota sobre o assunto nesta quarta-feira.