A OceanGate foi alertada sobre falhas no submersível Titan sob altas pressões em 2018, cinco anos antes da implosão que causou a morte dos cinco ocupantes durante expedição até os destroços do Titanic. A revelação foi feita por David Lochridge, ex-diretor de operações da empresa americana, no segundo dia de audiência da Guarda Costeira dos EUA sobre o incidente. As informações são do g1.
Segundo Lochridge, a OceanGate "ignorou todas as regras e regulamentos padronizados estabelecidos" por entidades como a Guarda Costeira, agências reguladoras e fabricantes.
—Era inevitável que algo fosse acontecer — disse o ex-diretor de operações ao tribunal.
Ele também disse que foram detectadas diversas falhas no Titan após realizar um controle de qualidade no submarino em janeiro de 2018, mas foi demitido após as expor e contestar a decisão do CEO da OceanGate, Stockton Rush, um dos cinco mortos da expedição, e de outros diretores de lançar o veículo sem a realização de testes.
Após ser demitido, o ex-diretor denunciou as irregularidades do Titan à Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA), segundo depoimento. No entanto, sua denúncia não foi investigada pela agência federal de segurança.
— Acredito que, se a OSHA tivesse tentado investigar a gravidade das preocupações que levantei em várias ocasiões, essa tragédia poderia ter sido evitada. (...) Como marinheiro, sinto-me profundamente desapontado pelo sistema que deveria proteger não apenas os marinheiros, mas também o público em geral — disse Lochridge.
De acordo com ele, o submarino da empresa era "experimental e inseguro" e disse ao tribunal que explicitou à diretoria da empresa as falhas do veículo, como a fragilidade de materiais aos efeitos da profundidade.
Segundo Lochridge, oito meses após apresentar a queixa à OSHA, um funcionário informou a ele que a agência ainda não havia começado a investigá-la e que havia 11 casos à frente do dele. Naquele momento, o ex-funcionário da OceanGate travava uma batalha judicial com a empresa —ele estava sendo processado por revelar informações confidenciais, e contra-processou a empresa por demissão injusta.
Cerca de 10 meses após apresentar a queixa, Lochridge decidiu desistir da denúncia. O caso foi encerrado e ambas as ações foram retiradas.
David Lochridge havia sido contratado pela empresa em 2016 como um engenheiro veterano e especialista em veículos do tipo do Titan. Ele era encarregado de "assegurar a segurança de todos os passageiros durante expedições no submarino".
Em seu depoimento, afirmou também que se sentiu usado pela OceanGate, que teria o contratado para dar lastro científico às operações da empresa.
— O objetivo principal da empresa era ganhar dinheiro. (...) Havia muito pouco em termos de ciência — afirmou Lochridge.
Relatório de controle de qualidade
Em um e-mail de 18 de janeiro de 2018 revelado na audiência na terça (17), David Lochridge formalizou suas preocupações à direção da empresa, que teriam sido "ignoradas em diversas ocasiões".
"Na minha opinião, até que ações corretivas adequadas estejam em vigor e concluídas, o Cyclops 2 (Titan) não deve ser tripulado em nenhum dos próximos testes", disse o então diretor.
O e-mail continha um relatório do controle de qualidade do Titan realizado por ele nos dias anteriores. No relatório, Lochridge lista diversos problemas com o submarino. Entre eles, o então diretor de operações afirmou que o material da qual o submarino era feito, fibra de carbono, se deformava em altas profundidades.
Ou seja, cada mergulho danificaria as camadas de fibra de carbono do Titan, enfraquecendo o submarino a cada descida. Além de problemas de composição — o material que revestia o chão liberava um gás tóxico quando pegava fogo — o submarino também tinha problemas estruturais.
Isso inclui o fato de que o casco de pressão — a parte do submarino que mantém os passageiros seguros — não havia sido testado, e uma janela no submarino foi testada apenas até 1.300 metros, enquanto o Titan mergulharia três vezes mais profundo.
No entanto, a intenção da OceanGate era realizar o teste de estresse no momento da expedição, segundo o documento judicial. De acordo com Lochridge, a precaução da empresa contra uma possível implosão seria um sistema de alerta acústico, projetado para soar um alarme caso o casco começasse a se romper. No entanto, não haveria tempo hábil para o sistema funcionar e impedir a tragédia.
Audiências
As audiências sobre a implosão do submarino Titan compõem uma investigação da Guarda Costeira americana sobre o caso e têm previsão para durar até o final da próxima semana. Após a semana de audiências, o órgão enviará um relatório com a conclusão das investigações e uma série de recomendações ao governo dos EUA.