Primeiro refém árabe-israelense resgatado na Faixa de Gaza, Qaid Farhan Alkadi relatou ter ficado oito meses praticamente sem exposição à luz do sol. Ele também cobrou o governo por um acordo que viabilize o retorno de todas as pessoas que seguem em poder do grupo terrorista Hamas.
Alkadi, de 52 anos, faz parte da comunidade beduína israelense, que teve ao menos 17 mortos e oito sequestrados no ataque de 7 de outubro do ano passado, que foi o estopim da guerra.
A maior parte desta comunidade mora no deserto do Neguev, no sul de Israel, local com pouco acesso a abrigos antiaéreos e hospitais, o que a torna mais vulnerável (leia abaixo).
O resgate ocorreu na segunda-feira em Rafah, no sul de Gaza. Alkadi, que trabalhava como segurança em uma fábrica de embalagens, foi encontrado em um quarto a 23 metros de profundidade por soldados israelenses que vistoriavam uma rede de túneis subterrâneos do Hamas.
Segundo familiares, Alkadi relatou ter visto um colega de cativeiro morrer ao seu lado e que não recebia tratamento diferenciado por ser árabe. Ele ainda teria relatado medo permanente de morrer.
— Ele ouvia os bombardeios sem parar e disse que seu corpo tremia. Todo dia ele tinha certeza de que era seu último dia — afirmou o primo Fadi Abu Sahiban ao jornal israelense Haaretz.
Nesta quarta-feira (28), ao deixar o hospital onde foi atendido após o resgate, Alkadi disse ter afirmado ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que a guerra “precisa ter fim”.
— Árabes, judeus, não importa. Não desejo para ninguém o que vivi – contou ele, que foi recebido por parentes e amigos no vilarejo beduíno onde vive.
Os beduínos
A comunidade beduína israelense abrange hoje cerca de 200 mil pessoas, conforme reportagem da BBC, o que corresponde a aproximadamente 2% da população do país.
A maioria desses árabes muçulmanos vive no deserto do Neguev, no sul. No passado, eles eram nômades. Hoje, vivem em comunidades fixas, geralmente aldeias sem eletricidade e não conectadas ao sistema de defesa. Por isso, esses locais foram muito atingidos em 7 de outubro.