O primeiro ataque israelense contra os huthis, que desafiam há meses os bombardeios americanos e britânicos, poderia fortalecer estes rebeldes iemenitas apoiados pelo Irã, indicam analistas.
Os bombardeios israelenses de sábado (20) no porto de Hodeida, que segundo os rebeldes mataram seis pessoas, "legitimam as afirmações dos huthis de que estariam em guerra contra Israel", disse à AFP Maged Al-Madhaji, do Centro de Estudos Estratégicos de Sanaa.
Isso poderia aumentar seu capital de simpatia em um contexto de fúria crescente no país pela guerra em Gaza, acrescentou.
Desde o início da guerra entre Israel e Hamas em outubro de 2023, os huthis se posicionam como integrantes-chave da rede regional de aliados do Irã, que inclui grupos no Líbano, na Síria e no Iraque.
Os rebeldes lançaram cerca de 90 ataques contra navios mercantes no Mar Vermelho e no Golfo de Áden desde novembro, e afirmam que atuam em solidariedade aos palestinos em Gaza.
Na sexta-feira, durante um ataque sem precedentes, um drone huthi conseguiu driblar o sistema de defesa israelense, matando uma pessoa em Tel Aviv.
Após a retaliação de Israel no sábado contra uma usina de energia e instalações de armazenamento de combustível no porto de Hodeida, os huthis prometeram uma resposta "maciça".
No mesmo dia, centenas de iemenitas com bandeiras palestinas foram às ruas da capital Sanaa gritando "morte aos Estados Unidos, morte a Israel".
- 'Instrumento de propaganda' -
"Para os rebeldes, esses ataques constituem um forte instrumento de propaganda. Eles podem atrair mais simpatizantes ao se apresentarem como defensores contra um novo agressor externo", opina Afrah Nasser, do grupo de reflexão Arab Center de Washington.
Os rebeldes também resistem aos bombardeios realizados desde janeiro por Estados Unidos e Reino Unido para proteger o tráfego marítimo.
Apesar do destacamento de coalizões navais ocidentais, os huthis intensificaram seus ataques contra as embarcações que consideram aliadas de Israel, com ajuda de mísseis e drones.
Gregory Johnsen, do Institute for Future Conflict, apontou nas redes sociais que os huthis "querem ser vistos combatendo a aliança americano-sionista". Isso "também asfixia a dissidência interna [...] o que torna o grupo mais forte e facilita o recrutamento".
Os huthis tomaram a capital Sanaa em 2014. Uma coalizão comandada pela Arábia Saudita interveio no ano seguinte para apoiar o governo internacionalmente reconhecido.
Cerca de uma década de guerra não foi suficiente para enfraquecer os rebeldes que controlam grandes extensões do Iêmen.
"A última década de guerra civil internacionalizada no Iêmen mostra que os bombardeios militares não abalam os dirigentes huthis", declarou Elisabeth Kendall, diretora do Girton College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Após os bombardeios israelenses, "os huthis [...] vão reforçar seu status de defensores da Palestina", disse ela à AFP.
- Escassez de combustível -
O porto de Hodeida, ponto de entrada vital para as importações de combustível e a ajuda internacional destinada às áreas do Iêmen controladas pelos rebeldes, tinha permanecido intacto em grande parte durante a guerra.
Andreas Kreig, do King's College de Londres, considera que o ataque israelense "não vai erodir de maneira significativa a rede de fornecimento de armas dos huthis".
"Os componentes dos mísseis podem ser entregues por diferentes rotas e não requerem instalações portuárias importantes", indicou, acrescentando que "o Irã dispõe de cadeias de abastecimento muito diversificadas".
Mas o ataque israelense poderia travar as importações futuras de combustível e gera temores de uma escassez em um contexto de crise financeira grave.
Os ataques destruíram os depósitos e isso causará "grave escassez de combustível no norte do Iêmen, afetando serviços essenciais como geradores de hospitais", ressaltou Albasha, analista do grupo de reflexão americano Navanti.
"Ademais, os danos causados à central elétrica de Hodeida [...] vão agravar consideravelmente os sofrimentos da população local", destacou.
* AFP