A Justiça argentina inicia, nesta quarta-feira (26), o julgamento pela tentativa de homicídio de Cristina Kirchner em 2022, quando um brasileiro residente no país disparou o gatilho a centímetros do rosto da então vice-presidente em uma tentativa fracassada de assassinato que chocou a sociedade e rompeu um limite político.
O julgamento centra-se nos três acusados, o agressor, a sua ex-namorada e o empregador de ambos como vendedores ambulantes, sem abordar supostos ideólogos ou possíveis apoios financeiros, pistas que a ex-presidente Kirchner pediu para serem investigadas e que fazem parte de um processo paralelo.
— O julgamento chega com uma investigação incompleta porque ainda precisamos saber muitas coisas sobre as verdadeiras motivações e se houve outras pessoas envolvidas — disse um dos advogados de Kirchner, Marcos Aldazábal.
O advogado considerou em todo o caso que será "muito importante conhecer o contexto de como as coisas aconteceram", algo que espera que venha à luz durante as audiências que ocorrerão todas as quartas-feiras, em um processo que pode durar até um ano e contará com mais de 300 testemunhas, incluindo a própria Kirchner.
Os acusados
O agressor era um vendedor de doces que na noite de 1º de setembro de 2022 atacou Kirchner em frente à sua casa em Buenos Aires, misturado entre centenas de simpatizantes que foram apoiá-la quando estava sendo julgada por suposta fraude durante sua presidência (2007-2015). Identificado como Fernando Sabag Montiel, de 37 anos, brasileiro, ele puxou o gatilho duas vezes sem que as balas saíssem e foi preso no local.
Sua namorada na época, Brenda Uliarte, que o acompanhou até as proximidades do local do incidente, foi presa dias depois, assim como Nicolás Carrizo, seu empregador como vendedor de doces e identificado como possível "planejador" do ataque.
Sabag Montiel, também motorista ocasional de uma locadora de carros e portador de tatuagens com símbolos nazistas, apresentava uma personalidade "narcisista" e um discurso "extravagante" com elementos de hostilidade a Kirchner, segundo especialistas. Já Uliarte, é acusada de ser "coautora" e instigadora, enquanto Carrizo é acusado de cumplicidade.
Outras pessoas detidas como suspeitas foram libertadas à medida que avançava a investigação sobre a chamada "banda de los copitos", o grupo de vendedores ambulantes de algodão doce ao qual pertenciam os acusados.
Em meio às condenações públicas do ataque, adversários políticos, como a atual ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ex-candidata presidencial pela força de direita Juntos pela Mudança, optaram pelo silêncio.
O ataque quebrou "um pacto democrático que é a base da democracia: o da não aceitação da violência contra o adversário", disse à AFP Iván Schuliaquer, formado em Ciência Política pela Universidade de Buenos Aires.