O cineasta iraniano Mohammad Rasoulof, que fugiu de seu país após ser condenado a cinco anos de prisão e a receber chibatadas, apresentará pessoalmente em Cannes seu filme "The Seed of the Sacred Fig", informaram os organizadores do festival nesta terça-feira (21).
O filme, que aborda a repressão interna no Irã pelo regime islâmico, concorre à Palma de Ouro e sua exibição está prevista para sexta-feira, na véspera da entrega do prêmio.
"O Festival de Cannes tem o prazer de confirmar que Mohammad Rasoulof estará presente para apresentar seu último filme", anunciou em um comunicado o delegado-geral do evento, Thierry Frémaux.
"Nunca deixamos de manter contato e estamos especialmente comovidos em recebê-lo. (...) Ele retornará pela primeira vez desde 2017, quando ganhou o prêmio Um Certo Olhar por seu filme 'A Man of Integrity'", lembrou.
"Queremos assim reafirmar o apoio do Festival de Cannes a todos os artistas que, no mundo, sofrem violência e represálias na expressão de sua arte. O Festival continua e sempre continuará sendo seu refúgio", concluiu.
- Fuga "perigosa" -
Rasoulof anunciou na semana passada que havia saído do país clandestinamente, a pé, uma viagem que qualificou como "esgotante" e "perigosa".
Ele é autor de uma cinematografia independente e filmada de forma artesanal, sempre às escondidas da vigilância do regime dos aiatolás.
O diretor conseguiu sair, mas ficaram no Irã colaboradores que ajudaram a realizar "The Seed of the Sacred Fig" ("A Semente do Figo Sagrado", em tradução livre).
Rasoulof estava proibido de deixar o Irã desde 2017, quando seu passaporte foi confiscado. Entre julho de 2022 e fevereiro de 2023, esteve preso e saiu graças a uma anistia geral concedida a milhares de pessoas após grandes manifestações pró-democracia.
Pouco depois de sua libertação, foi informado de que seria julgado novamente por seu filme "Não Há Mal Algum" (2020), vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. A obra é um manifesto contra a pena de morte, amplamente aplicada pelo regime iraniano.
A decisão de fugir foi tomada há um mês, revelou Rasoulof, que está em um local secreto na Europa. "A liberdade de expressão deve ser defendida com voz forte e clara", pediu em seu comunicado há uma semana.
As gravações de "The Seed of the Sacred Fig" foram feitas em segredo, preservando na medida do possível a identidade dos atores.
Alguns conseguiram sair do país após a conclusão do filme e outros estão sob pressão dos serviços de inteligência.
Rasoulof já apresentou antes três filmes em Cannes: "Goodbye" em 2011, "Manuscritos não Queimam" em 2013 e "A Man of Integrity" em 2017.
"The Seed of the Sacred Fig" conta a história de um juiz iraniano que entra em paranoia e começa a suspeitar de sua própria esposa e filhas durante os protestos pró-democracia, segundo a sinopse fornecida pelo festival.
- Duas comédias na disputa -
O tapete vermelho do Festival de Cannes recebeu a chama olímpica nesta terça-feira, a menos de 100 dias para os Jogos de Paris 2024.
A tocha chegou do porto de Marselha, onde havia desembarcado no início do mês em um veleiro do século XIX que iniciou viagem na Grécia.
A jogadora de basquete francesa Iliana Rupert segurou a tocha ao som da conhecida trilha do filme "Carruagens de Fogo" (1981) e de outras músicas do estilo esportivo.
E na competição oficial, o americano Sean Baker apresentou "Anora", uma comédia ácida sobre uma stripper que se apaixona pelo homem errado.
Em um momento de denúncia da violência sexual no mundo do entretenimento, Baker fez o público se divertir com este filme leve sobre o mundo da prostituição e das máfias russas nos Estados Unidos, sem nunca entrar na violência gratuita.
Também estreou outra comédia, "Marcello Mio", do francês Christophe Honoré, uma homenagem da atriz Chiara Mastroianni a seu pai, Marcello Mastroianni.
Ela adota a identidade dessa lenda do cinema italiano, para desespero de sua família ou diversão de seus amigos.
* AFP