As seções de votação registraram longas filas nesta quarta-feira (29) na África do Sul, um sinal da forte participação nas eleições mais disputadas em 30 anos, nas quais o partido no poder pode perder a maioria absoluta.
Estão habilitadas a votar 27,6 milhões de pessoas para eleger, de forma proporcional, os 400 deputados do Parlamento que, uma vez constituído, será encarregado de nomear o próximo presidente em junho.
Faltando duas horas para o encerramento da votação, às 21h locais (16h de Brasília), muitos eleitores esperavam várias horas em alguns casos para votar.
A comissão eleitoral informou que este fenômeno era observado nas grandes cidades. Os resultados definitivos não devem sair antes do fim de semana.
A entidade também informou que espera uma participação "muito superior" à das últimas legislativas, em 2019, nas quais votaram 66% dos inscritos.
Pela primeira vez desde a chegada da democracia, em 1994, o partido que pôs fim ao apartheid sob a liderança de Nelson Mandela e que tirou milhões de pessoas da pobreza pode ser obrigado a negociar uma coalizão para se manter no poder.
Os desafios são múltiplos para o ANC, que disputa um segundo mandato para o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa: oposição à esquerda e à direita, desemprego e criminalidade beirando níveis recorde, e o descontentamento de uma nova geração sem memória da luta contra o regime de segregação racial.
Em Soweto, localidade nos arredores de Johannesburgo que se tornou o centro da luta pela libertação da população negra, os partidários do ANC foram cedo votar.
Mas também compareceram às urnas eleitores desencantados, como Kqomotso Mtumba, que explicou que, após ter votado no ANC no passado, agora optou por "um partido emergente".
"O último partido no qual votei, suas promessas não funcionaram, sendo assim agora tento este", disse esta bancária de 44 anos.
O sentimento era similar em Alexandria, um distrito da classe operária de Johannesburgo. "Realmente preciso ver uma mudança", reconheceu uma funcionária pública de 34 anos, que se identificou apelas pelo primeiro nome, Keletso.
"Precisamos de gente nova, sangue fresco. O desemprego é ruim. Para colocar pão na mesa, alguns recorrem ao crime, outros se prostituem", afirmou.
- A eleição "mais imprevisível" -
Durante 30 anos de democracia, os eleitores foram leais ao partido que libertou o país do jugo do apartheid e que em seus primórdios prometia educação, água, teto e direito ao voto para todos.
Mas sua popularidade está em declínio. Se nas eleições de 2019, obteve 57% dos votos, as pesquisas agora lhe atribuem cerca de 40%.
Entre os 62 milhões de habitantes do país, cresce a frustração com o desemprego (que afeta um terço da população economicamente ativa), a criminalidade, os escândalos de corrupção e os cortes recorrentes de abastecimento de água e energia elétrica.
Em discurso à nação no domingo, Ramaphosa defendeu sua administração e ressaltou os avanços na luta contra a corrupção e na correção das brechas na geração de eletricidade.
Depois de votar em Soweto, o presidente assegurou que não havia "nenhuma dúvida de que o povo continuará confiando mais uma vez no ANC".
A votação constitui "uma guinada na história política do país", avaliou Aleix Montana, da assessoria de avaliação de riscos Verisk Maplecroft.
É, "sem nenhuma dúvida, a mais imprevisível desde 1994", disse, por sua vez, o analista político Daniel Silke.
Se conseguir menos que 201 assentos, Ramaphosa terá que negociar com partidos da oposição e deputados independentes para garantir a maioria.
À sua direita, encontrará a Aliança Democrática, movimento liberal que propõe privatizações e desregulamentação e que carrega uma imagem de partido da minoria branca. As pesquisas lhe atribuem cerca de 25% dos votos.
À esquerda, com 10% dos votos cada, segundo as pesquisas, situam-se o partido uMkhonto we Sizwe (MK), do ex-presidente Jacob Zuma, e o Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), que promete reformas radicais, como a redistribuição de terras e nacionalizações.
* AFP