Nunca "sabemos quando seremos atingidas por uma bala perdida ou estupradas", diz a jovem sul-africana Lutho Makheyi sobre o subúrbio onde mora, no oeste de Johanesburgo, que é assolado por grupos criminosos que controlam a mineração ilegal.
A menos de três semanas das eleições parlamentares de 29 de maio, a insegurança é uma das principais preocupações dos sul-africanos, juntamente com o desemprego crônico e a corrupção.
Nesse subúrbio a 10 km da capital econômica da África do Sul, fundada no auge da corrida do ouro no final do século XIX, facções rivais lutam para recuperar o que resta do precioso mineral.
"Um amigo foi morto em um tiroteio. É traumático, você não sabe se estará vivo amanhã", diz o jovem de 21 anos, nessa terra repleta de pilhas de escória, poços e valas deixados pela atividade de mineração.
Localizada em frente ao subúrbio de classe trabalhadora de Riverlea, a favela de Zamimpilo é composta por centenas de barracos feitos de tábuas ou madeira.
Os mineiros subterrâneos, chamados de "zama zamas" ("aqueles que ainda estão tentando", em zulu), vivem lá com suas famílias, que há anos esperam por moradia social.
Um desses mineiros, coberto de areia e com uma lanterna na testa, passa por Nobukho Novozoka, que está apavorada com o efeito da violência diária em seus filhos.
"Minha filha, que tem 17 meses, se esconde quando ouve tiros. Ela me diz: 'Mamãe, abaixe-se'", explica a mulher de 38 anos.
Quando chegarem as eleições, ela não vai votar. Não vê interesse nisso.
No centro do acampamento, as crianças brincam ao redor de uma vala que serve como depósito de lixo, onde porcos enormes se alimentam.
Há alguns meses, o ministro da Polícia foi até lá depois que vários corpos foram encontrados e prometeu agir contra a insegurança.
Desde então, "nada mudou. A polícia foi enviada por três meses, mas a mineração clandestina continuou diante de seus olhos", diz Nokuzola Qwayede, 42 anos.
A polícia realizou uma incursão na semana passada, mas acabou em um fiasco, como testemunhado pela AFP. Alguém havia avisado os "zama zamas", que haviam fugido quando os policiais chegaram.
No ano passado, a polícia prendeu milhares de suspeitos, muitos deles estrangeiros.
O governo disse que estava "seriamente preocupado com essa praga" e até mesmo enviou os militares para fechar as minas abandonadas, de acordo com um porta-voz do Ministério de Mineração.
Mas o pesquisador da Universidade de Johanesburgo, Dale McKinley, adverte que o problema está longe de desaparecer porque "alguns políticos estão por trás dessas atividades ilegais".
De acordo com suas informações, alguns dos mineradores ilegais trabalhavam para empresas que faliram.
* AFP