Dezenas de milhares de taiwaneses participaram nos últimos comícios de campanha na noite desta sexta-feira (12), na véspera de uma eleição presidencial crucial realizada sob a sombra de uma China cada vez mais beligerante em relação a esta ilha de governo autônomo.
Três homens disputam a Presidência nessa votação de um único turno: o vice-presidente em final de mandato, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP); o ex-policial Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT); e o líder do pequeno Partido Popular de Taiwan (PPT), Ko Wen-je.
"Queremos paz, não guerra", proclamam os cartazes coloridos erguidos por apoiadores no comício de Hou Yu-ih.
Localizado a apenas 180 quilômetros da costa chinesa e reivindicado por Pequim, o território de 23 milhões de habitantes é considerado um modelo de democracia na Ásia.
Na quinta-feira, a China descreveu o favorito Lai Ching-te como um "grave perigo" por sua posição em defesa da independência da ilha.
"Essa eleição desperta um maior interesse, especialmente porque o contexto geopolítico da região evoluiu significativamente desde as últimas eleições de 2020, sobretudo, em termos de coerção militar, política e informativa da China em relação a Taiwan", disse à AFP Marc Julienne, responsável por China no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).
"O triângulo China/Estados Unidos/Taiwan está cada vez mais tenso", acrescenta este especialista que se deslocou para a ilha.
- "Estado soberano" -
O "status" de Taiwan é um dos assuntos mais espinhosos da rivalidade entre China e Estados Unidos, o principal apoio militar do território.
Os Estados Unidos consideram que "cabe aos eleitores de Taiwan decidir livremente seu próximo dirigente e sem ingerência externa", disse na quinta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.
Durante toda a semana, Pequim aumentou sua pressão diplomática e militar sobre Taiwan. Na quinta-feira, o Ministério da Defesa de Taipei detectou cinco balões, dez aviões e seis navios de guerra chineses ao redor da ilha.
Os Estados Unidos instaram a China a evitar "mais pressão militar ou ações coercitivas" após os resultados.
Mas Pequim considerou que Washington "deve se abster de intervir nas eleições na região de Taiwan (...) para evitar prejudicar seriamente as relações sino-americanas".
Na última semana, os candidatos intensificaram sua campanha por todo o país, visitando templos e mercados, realizando muitos comícios e dirigindo-se aos veículos de comunicação internacionais que acompanham de perto a eleição.
O favorito nas pesquisas é Lai Ching-te, vice da presidente em final de mandato, Tsai Ing-wen, cujo partido PDP considera que Taiwan já é um Estado independente. Enfrenta o KMT, que promove a aproximação com a China continental.
"Taiwan é um Estado soberano e independente", diz Monica, de 48 anos, simpatizante de Lai.
"Taiwan não pertence à China", diz outra eleitora, Sylvia, de 31 anos. "Na verdade, já somos independentes", insiste.
- "Ação militar" -
Desde 2016, Pequim cortou as comunicações de alto nível com Taipei em protesto pela eleição da presidente Tsai Ing-wen.
"A China teme que uma administração reeleita do PDP sob a liderança de Lai se manifeste a favor da independência formal de Taiwan, uma medida que Pequim ameaça impedir mediante uma ação militar", afirma James Crabtree, especialista do Conselho Europeu de Relações Internacionais (ECFR).
Na terça-feira, Lai voltou a denunciar as ingerências chinesas "por todos os meios", incluindo "intimidação política e militar".
Durante a campanha, ele prometeu manter o diálogo com o poder comunista, mas disse que não aceitará o princípio de "uma só China" de Pequim, já que Taiwan é um território próprio, à espera da recuperação de seu controle.
"Aceitar o princípio chinês de 'uma só China' não é uma paz verdadeira. Paz sem soberania (...) é uma falsa paz", advertiu.
Embora partidários de melhorar o diálogo, os demais candidatos taiwaneses se opõem à unificação desejada pelo presidente chinês, Xi Jinping, que não renuncia ao uso da força para consegui-la.
"Queremos expressar à China nosso desejo de nos comunicarmos", mas "queremos preservar nossa democracia, nossa liberdade e nosso modo de vida", disse Ko Wen-je, do PPT, na quinta-feira.
"O que quer que a China pense, o que o público em Taiwan quer que façamos é manter o status quo", afirmou Hou Yu-ih, do KMT.
* AFP