Os taiwaneses iniciaram a votação neste sábado (13, noite de sexta em Brasília) para eleger um novo presidente, que terá o desafio de manter o rumo da democracia frente às ameaças crescentes da China de pôr fim à autonomia da ilha.
Nas vésperas da votação, a China instou os taiwaneses a tomarem "a decisão correta" se querem evitar a guerra e descreveu o favorito e atual vice-presidente da ilha, Lai Ching-te, como um perigoso "separatista".
As quase 18.000 seções eleitorais distribuídas pelo território de 23 milhões de habitantes abriram às 8h locais (21h de sexta em Brasília) e vão fechar às 16h (5h de sábado em Brasília). Os resultados do pleito presidencial, que é disputado em turno único, devem ser conhecidos pela noite.
Três homens concorrem para ser o sucessor da presidente Tsai Ing-wen, cujo mandato iniciado em 2016 esteve marcado pela crescente pressão diplomática, econômica e militar de Pequim.
Além de Lai, do Partido Progressista Democrático (PDD) no poder, concorrem o ex-policial Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), defensor da manutenção do status quo com a China, e Ko Wen-je, líder do pequeno Partido Popular de Taiwan (PPT).
Taiwan e a China continental estão separadas de fato desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram as forças nacionalistas, que se refugiaram na ilha e impuseram uma autocracia que se transformou em democracia na década de 1990.
A China nunca deixou de proclamar sua intenção de "reunificar" o país, se necessário à força. O Exército chinês prometeu hoje "esmagar" qualquer tentativa de "independência" de Taiwan, localizada a 180 km da sua costa.
Os resultados serão acompanhados de perto por Pequim e Washington - o principal aliado e fornecedor de armas para Taipé.
- Vitória, mas sem maioria? -
Os candidatos intensificaram suas campanhas na última semana: visitaram templos e mercados, realizaram comícios com dezenas de milhares de participantes e atenderam a imprensa internacional, que acompanha com atenção as eleições.
Na sexta-feira, os três partidos na disputa concluíram suas campanhas com atos em Taipé, que reuniram centenas de milhares de pessoas.
Lai, assim como a presidente em fim de mandato Tsai, de seu mesmo partido, considera a ilha um Estado independente "de facto" e se apresenta como defensor de seu estilo de vida democrático.
Seu principal adversário, Hou Yu-ih do Kuomintang, acusa Lai e seu partido PPD de contrariarem a China com suas posturas soberanistas e se mostra favorável de estreitar os laços com Pequim.
Além desses dois partidos que se alternaram no poder desde o início da democracia taiwanesa, o pequeno PPT abriu caminho se apresentando como uma "terceira via".
O KMT e o PPT tentaram unir forças frente ao PPD, mas a aliança naufragou pela falta de acordo sobre quem lideraria a candidatura presidencial.
Além de escolherem o presidente, os taiwaneses devem renovar o Parlamento.
Embora a lei proíba a publicação de pesquisas nos dez dias anteriores à votação, os analistas apontam que Lai, de 64 anos, vencerá a presidência, mas seu partido pode perder a maioria na câmara de 113 assentos.
- Território estratégico -
A ilha é crucial para a economia mundial, tanto por sua posição estratégica entre o Mar do Sul da China e o Oceano Pacífico, quanto por sua indústria de ponta de semicondutores, componentes indispensáveis na fabricação de celulares, carros e até mísseis.
Nos últimos anos, a China aumentou a pressão militar sobre o território, lançando periodicamente exercícios de larga escala que suscitaram temores de uma eventual invasão.
Também intensificou sua campanha diplomática para isolar Taiwan, que agora é reconhecida oficialmente por apenas 13 Estados, depois que países como Honduras e Nicarágua romperam relações com Taipé para estabelecê-las com Pequim.
O status de Taiwan é um dos temas mais espinhosos da rivalidade entre China e Estados Unidos, que competem por influência nesta região estratégica.
Washington instou Pequim a não interferir nas eleições e a abster-se de exercer "mais pressão militar ou ações coercitivas" após os resultados.
* AFP