As tradicionais luzes, enfeites e a conhecida árvore de Natal da Praça da Manjedoura em Belém, na atual Cisjordânia, onde, segundo a Bíblia, Jesus nasceu, deram lugar a uma representação diferente neste Natal. Um presépio adaptado agora ocupa o espaço: o pequeno Jesus repousa entre destroços dentro da gruta, enquanto Maria, José e os pastores se esforçam para resgatá-lo. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A Igreja Evangélica Luterana de Belém instalou o presépio adaptado como uma alusão à guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
— Este ano, sem a árvore de Natal e sem luzes, há apenas escuridão — afirmou John Vinh, um monge franciscano do Vietnã que vive em Jerusalém há seis anos, mas sempre visita Belém no Natal.
O Jesus no presépio na Praça da Manjedoura está envolto em uma mortalha branca, uma lembrança das crianças mortas na guerra. A cena é cercada por arame farpado.
Ataques no Natal
Conforme informações da rede de notícias Al Jazeera do Catar, as forças militares de Israel conduziram uma operação na Cisjordânia ocupada durante a noite de Natal, incluindo incursões em Belém. Repórteres da emissora destacam que as forças de Tel Aviv adentraram diversas residências na cidade e em outras localidades, como Jenin, Nablus e Ramallah, em busca de cidadãos palestinos.
Enquanto isso, em Gaza, autoridades relatam que a noite de Natal foi uma das mais letais desta guerra. Um ataque aéreo na região central de Maghazi teria resultando em pelo menos 70 mortes. Outro ataque, no sul, em Khan Yunis, teria causado 23 vítimas. De acordo com informações dos órgãos controlados pelo Hamas, o total de óbitos chegou a 201 pessoas em um dia.
Golpe para a economia
As celebrações de Natal em Belém foram canceladas neste ano, por causa da guerra. A medida é um duro golpe para a economia local. O turismo é responsável por cerca de 70% da receita da cidade, a maior parte nesta época do ano.
Com muitas companhias aéreas cancelando voos para Israel, poucos estrangeiros visitam o local sagrado. Autoridades dizem que mais de 70 hotéis em Belém foram forçados a fechar, deixando milhares de pessoas desempregadas. No dia 24, o comércio demorou a abrir e teve pouco movimento.
— Não podemos justificar colocar uma árvore e comemorar normalmente, quando algumas pessoas em Gaza nem sequer têm casas para onde ir — disse Ala'a Salameh, um dos donos do Afteem, um restaurante de faláfel de propriedade da família dele, a poucos passos da Praça da Manjedoura.
Salameh afirmou ainda que a véspera de Natal costuma ser o dia mais movimentado do ano.
— Normalmente, você não consegue encontrar uma única cadeira para sentar, estamos lotados da manhã até a meia-noite. Este ano, apenas uma mesa foi ocupada por jornalistas que fugiam da chuva — relatou.
Joseph Mugasa, pediatra, foi um dos poucos visitantes internacionais. Ele disse que o seu grupo de turistas de 15 pessoas, da Tanzânia, estava "determinado" a vir para a região, apesar da situação.
— Já estive aqui várias vezes e é um Natal bastante único, pois normalmente há muita gente e muitas celebrações. Mas não podemos comemorar enquanto as pessoas estão sofrendo, por isso estamos tristes por elas e rezando pela paz — completou.