Aliados do Irã, os rebeldes houthis do Iêmen advertiram, nesta terça-feira (19), que vão atacar navios de "qualquer país" que aja contra eles no Mar Vermelho, depois de Washington ter anunciado a formação de uma coalizão internacional para proteger essa importante rota comercial, considerada sob "ameaça". A situação têm obrigado empresas de logística a mudar trajetos de cargueiros.
"Qualquer país que agir contra nós verá seus navios atacados no Mar Vermelho", alertou Mohammed Ali al-Huthi, um membro importante do grupo rebelde, em entrevista ao al-Alam, canal de televisão em árabe oficial do Irã.
O grupo apoia o movimento terrorista Hamas na guerra contra Israel e recebe apoio do Irã — em meio a uma guerra civil vivida pelo Iêmen.
Nas últimas semanas, os houthis lançaram uma série de ataques com drones e mísseis contra navios no Mar Vermelho, em resposta aos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza.
Os ataques obrigaram várias das mais importantes companhias marítimas do mundo a suspenderem o trânsito de seus navios por este corredor, que liga o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, portanto, a Europa à Ásia.
Essas agressões "sem precedentes" representam uma "ameaça" ao comércio global, advertiu nesta terça o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, informou por meio de nota o secretário de Imprensa do Pentágono, general de brigada Pat Ryder.
Austin anunciou a formação de uma coalizão internacional para proteger navios e enfrentar ataques. A aliança reúne Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, Bahrein, Canadá, Itália, Holanda, Noruega e ilhas Seychelles.
"Militarizar o mar"
"Mesmo que os Estados Unidos consigam mobilizar o mundo inteiro, nossas operações militares não vão parar (...), não importam os sacrifícios que isso exija de nós", disse o alto comandante rebelde Mohammed al Bujaiti, na rede social X (antigo Twitter). Segundo ele, esses ataques vão parar apenas "se Israel acabar com seus crimes, e comida, remédios e combustível chegarem à população sitiada" da Faixa de Gaza.
O porta-voz rebelde Mohamed Abdul Salam acrescentou que "a coalizão formada pelos Estados Unidos busca proteger Israel e militarizar o mar". "Qualquer um que pretenda expandir o conflito deve assumir as consequências dessas ações", completou.
Os rebeldes houthis lançaram mais de 100 ataques com drones e mísseis contra 10 navios mercantes, de acordo com o Pentágono. Na segunda-feira, os rebeldes houthis assumiram a responsabilidade por novos ataques contra dois navios — o norueguês Swan Atlantic e o MV Clara.
De acordo com informações do portal g1, quatro das cinco maiores empresas de cargueiros do mundo suspenderam a passagem pelo Mar Vermelho ou redirecionaram o percurso: MSC, Maersk, Grupo CMA CGM e Hapag-Lloyd.
"Os países que buscam defender o princípio fundamental da liberdade de navegação devem se unir para enfrentar o desafio colocado por este ator não estatal", disse secretário americano da Defesa, em um comunicado divulgado na segunda-feira (18).
Em torno de 40% do comércio mundial transita pelo Estreito de Bab Al Mandab, o corredor que liga o Chifre da África à Península Arábica, onde os houthis aumentaram seus ataques.
Coalizão
A Espanha declarou, nesta terça, que sua participação na coalizão será no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia, mas não "unilateralmente", conforme mensagem do Ministério espanhol da Defesa à agência de notícias AFP.
A Itália anunciou, por sua vez, que enviará a fragata multimissão Virgilio Fasan ao Mar Vermelho "nas próximas horas", de acordo com uma nota de seu Ministério da Defesa.
O destróier britânico HMS Diamond se juntou à coalizão, conforme anunciou o respectivo Ministério da Defesa, após uma reunião virtual de mais de 20 países. O navio se soma a uma força que conta, no momento, com três destróieres americanos e com uma fragata francesa.
Para analistas, a margem de manobra da coalizão anunciada por Washington poderá ser limitada face aos ataques dos houthis, que dispõem de um arsenal de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e aviões não tripulados. "Os houthis dispõem de um amplo arsenal de diferentes drones e mísseis que podem lançar (...) e alguns deles serão difíceis de interceptar por um navio de Marinha de médio porte", disse à AFP o professor Andreas Krieg, da King's College, de Londres.