Dezenas de milhares de funcionários públicos saíram às ruas nesta terça-feira (21) na província de Quebec para exigir aumento salarial e melhores condições, no primeiro dia de uma semana "histórica" de greves no Canadá.
No total, cerca de 600.000 funcionários da província francófona planejam deixar de desempenhar seus trabalhos esta semana, e alguns vão iniciar uma greve de caráter indefinido após meses de negociações infrutíferas com o governo regional.
Diante de uma importante escola da ilha de Montreal, o ambiente, marcado por música e dança, era festivo e a multidão de grevistas - funcionários da administração pública, da educação, da saúde e dos serviços sociais - mostrava determinação.
"Temos a impressão de que o governo toma decisões, mas não escolhe os serviços públicos", declarou à AFP Valérie Fontaine, presidente da Federação de Pessoal de Apoio ao Ensino Superior.
"O principal obstáculo é o salário. Temos uma diferença salarial nos serviços públicos [em comparação com os serviços privados] que está aumentando", acrescentou Valérie, que usava um gorro com o símbolo do sindicato.
Entre a multidão, bastante agasalhada por conta do inverno que se aproxima, muitos portavam bandeiras sindicais e cartazes feitos em casa. "A inflação nos empobrece, os patrões enriquecem", proclamava um deles. "Minhas baterias acabaram, isso merece uma solução!", dizia outro.
"Eles riem um pouco de nós. Votam por um aumento de 30% para eles, os deputados... Oferecem 21% à polícia... A educação é geralmente uma profissão feminina e oferecem 10%. Talvez seja misoginia", acrescentou Valérie Fontaine.
No mês passado, os sindicatos tinham rejeitado a última oferta do governo provincial de François Legault: um aumento salarial de 10,3% em cinco anos e uma bonificação de 1.000 dólares canadenses (cerca de R$ 3.500 na cotação atual) por funcionário. A proposta foi considerada "ultrajante" pelos sindicatos.
Nesta terça, o governo disse que esperava "discussões sérias, mas sobre medidas aplicáveis e realistas", declarou Sonia LeBel, presidente da Secretaria do Tesouro.
Em diferentes pontos do protesto, muitos manifestantes também trouxeram a questão da piora nas condições de trabalho no setor público.
"Queremos mais serviços para nossos alunos, aulas mais equilibradas... menos alunos por sala", disse Eric L'Heureux, professor do ensino fundamental.
"Todo o pessoal está sobrecarregado de trabalho e esgotado", afirmou Réjean Leclerc, presidente da Federação da Saúde e dos Serviços Sociais.
A partir de hoje e durante três dias, cerca de 420.000 pessoas, representadas pela associação intersindical Frente Comum, estão em greve. Esta é a segunda mobilização do mês.
A eles vão se juntar na quinta-feira 66.000 docentes da Federação Autônoma de Educação que vão iniciar uma greve geral indefinida. A seu lado, cerca de 80.000 enfermeiros e outros profissionais da saúde também vão deixar de trabalhar na quinta e na sexta-feira.
* AFP