Manifestantes entraram em confronto com a polícia nesta quinta-feira (23), queimaram veículos e saquearam lojas em Dublin depois de um ataque com faca em frente a uma escola, com três crianças feridas, e que, segundo as autoridades, não teve motivação "terrorista".
Agentes da tropa de choque da polícia montaram guarda nas ruas da capital irlandesa diante de uma multidão que entoava cânticos e disparava fogos de artifício.
Uma viatura da polícia e um ônibus foram incendiados perto do rio Liffey, que cruza a cidade, enquanto os manifestantes saqueavam as lojas de uma das principais vias comerciais de Dublin.
A noite trouxe calma para as ruas da capital após cenas de "brutalidade gratuita", segundo o comissário-chefe Patrick McMenamin, que disse que não houve feridos graves de nenhum lado nos incidentes.
Os distúrbios, os piores em Dublin em anos, ocorreram depois de um ataque com faca no qual uma menina de cinco anos e uma mulher jovem ficaram gravemente feridas.
Outras duas crianças e um adulto, que, em princípio, é o agressor, também foram levados ao hospital depois do incidente ocorrido por volta das 13h30 GMT (10h30 em Brasília).
O comissário Drew Harris atribuiu os distúrbios na capital a uma "facção de ultras [torcedores violentos] loucos movidos por uma ideologia de extrema direita".
O agente advertiu contra a "desinformação" depois que circularam rumores nas redes sociais sobre a nacionalidade do agressor.
Depois do ataque, centenas de pessoas se concentraram em um bairro com numerosa população imigrante com bandeiras nacionais e cartazes que diziam: "Irish Lives Matter" (Vidas irlandesas importam).
Um indivíduo envolvido nos distúrbios disse à AFP: "Os irlandeses estão sendo atacados por esta escória."
A Irlanda enfrenta uma crise crônica de habitação com um déficit de milhares de residências para a população, segundo as estimativas do governo.
Este mal-estar alimenta um sentimento de rejeição aos imigrantes promovido por figuras de extrema direita que garantem que "a Irlanda está cheia".
- 'Confusão absoluta' -
"Não vamos tolerar que um pequeno número de pessoas utilize atos atrozes para semear divisão", declarou a ministra da Justiça, Helen McEntee, em um comunicado.
Os atos contra a polícia devem ser "condenados" e serão tratados "severamente", acrescentou.
O ataque desta quinta, que segundo a polícia não tinha motivação terrorista, envolveu um homem armado que esfaqueou várias vítimas em frente a uma escola, segundo testemunhas e imprensa.
As testemunhas contaram que o homem foi desarmado e o primeiro-ministro Leo Varadkar afirmou que o suspeito tinha sido preso.
O comissário Liam Geraghty disse aos meios de comunicação que uma menina de cinco anos e uma mulher sofreram ferimentos graves e estavam sendo tratadas no hospital.
Também ficaram feridos uma menina de seis anos e um menino de cinco, mas este último já recebeu alta do hospital, disse.
O homem ferido, de aproximadamente 50 anos, era uma "pessoa de interesse" para a polícia, explicou Geraghty.
Siobhan Kearney, que testemunhou o ocorrido do outro lado da rua, descreveu uma cena de "confusão absoluta". "Sem pensar, atravessei a rua para ajudar", explicou a mulher ao canal irlandês RTE.
Segundo o seu relato, o agressor foi desarmado por outro homem que "tomou a faca e a guardou" para que fosse entregue à polícia.
Kearney contou que um grupo de pessoas imobilizou o homem no chão, enquanto outros levavam os feridos para dentro da escola.
- Consternação -
O primeiro-ministro Varadkar disse que estava consternado pelo ataque.
O mesmo sentimento expressado pela presidente do órgão executivo da União Europeia, bloco do qual a Irlanda faz parte. "Estou consternada pelo ataque brutal que feriu várias pessoas em Dublin, entre elas crianças", disse Ursula von der Leyen.
"Os fatos deste caso estão sendo esclarecidos. Os serviços de emergência reagiram muito rápido e chegaram em minutos", disse o primeiro-ministro irlandês.
A polícia nacional "deteve um suspeito e está seguindo uma linha de investigação definida", acrescentou.
A líder do Sinn Fein, a terceira força política irlandesa, disse que estava "horrorizada" com o ocorrido e expressou "solidariedade" com as famílias.
"Acabo de falar com o diretor da Gaelscoil Choláiste Mhuire e transmiti a ele o meu apoio à comunidade educativa", disse Mary Lou McDonald em referência à escola afetada.
* AFP